terça-feira, 11 de dezembro de 2012

COLETÂNEA OXUM E O JOGO DE BÚZIOS - O JOGO DE BÚZIOS

O JOGO DE BÚZIOS


O jogo de búzios é uma das artes divinatórias utilizado nas religiões tradicionais africanas e na religiões da Diáspora africana instaladas em muitos países das Américas. 

Existem muitos métodos de jogo, o mais comum consiste no arremesso de um conjunto de 16 búzios sobre uma mesa previamente preparada, e na análise da configuração que os búzios adotam ao cair sobre ela. 

Neste ato, o Babalorixá ou Yalorixá, antes de iniciar o jogo faz as rezas saudando todos os Orixás e durante os arremessos, vai conversando com as divindades fazendo-lhe perguntas. Considera-se que as divindades afetam o modo como os búzios se espalham pela mesa, dando assim as respostas às dúvidas que lhes são colocadas.

Búzios


Búzio, concha de praia de vários tamanhos, utilizada como objeto de adorno nas roupas dos Orixás onde são aplicados formando desenhos, em colares chamados de fio de contas onde são colocados como fecho ou como Brajá, ou ainda totalmente feito de búzios imitando as escamas de uma cobra, como objeto de comunicação com os Orixás nas consultas ao jogo de búzios e Merindilogun. 

O búzio tem uma abertura natural e uma parte ovalada, a maioria dos adornos e jogos de búzios, são feitos com os búzios abertos, onde é tirada a parte ovalada do mesmo. Existindo muita discussão sobre qual seria o aberto e o fechado, por esta razão, alguns sacerdotes jogam com os búzios inteiros nesse caso o aberto é a abertura natural do búzio. 

No Brasil os búzios (conchas de praia), cawris na África, usados como dinheiro sendo moeda corrente; são usados pelos Babalorixás e Iyalorixás para comunicação com os Orixás, nas consultas ao jogo de búzios ou Merindelogun. Através deles pode-se consultar o futuro, de acordo com a religião Batuque, Candomblé, Omoloko, Tambor de Mina, Umbanda, Xambá, Xangô do Nordeste ou como adorno em roupas dos Orixás e para confecção de alguns fios de contas. 

Também é usado em outras religiões afro-descendentes em vários países. Sua origem é médio-oriental, mais precisamente a região da Turquia. Penetrando na África junto com as invasões daqueles povos aos africanos. 

Adotado pelas mulheres pelo fato de que o Opele-Ifa e Opon-Ifa (jogos divinatórios originalmente africano) é destinado somente aos homens. Entrou na vida e na cultura Yoruba e enraizou-se tão profundamente que hoje o Merindilogun (jogo de buzios) é mais conhecido que o verdadeiro oráculo dos Babalawos (o Opele-Ifa e Opon-Ifa) também o mais utilizado aqui no brasil. 

No entanto, segundo algumas correntes e crenças nem todas as pessoas podem ler buzios. Esta prática está destinada apenas a pessoas com uma forte espiritualidade. De forma geral estão pré destinadas às Mães, Pais, ou filhos de Santo após a obrigação de sete anos com o recebimento dos direitos, autorização e ensinamentos dado pela mãe ou pai de santo. 

Algumas destas informações tirei deste livro o qual eu indico para que você possa ter um pouco mais de exclarecimento neste assunto:


Mas não deixo de recomendar este outro livro, que é bem antigo, mas de profundidade enorme: Jogo de búzios - Um encontro com o Desconhecido - José Beniste.

COLETÂNEA OXUM E O JOGO DE BÚZIOS - OS IORUBÁS E AS ADIVINHAÇÕES


Os iorubá têm o hábito de propor adivinhações - àlo e citar provérbios - òwe. Ambos são simbólicos e se baseiam na experiência. O àlo propõe um raciocínio, e o òwe é um exemplo de vida. Como exemplo de àlo temos: 

Á dúró, ó dúró, a bere, o bere, a lé e, lé e, kò lo. Ìdahún: òjìji (Nós paramos, ela pára, nós abaixamos, ela abaixa, nós mandamos embora, ela não vai. Resposta: a sombra). 

Òwe - (Provérbios) 

Os provérbios iorubá só podem ser ditos pelos mais velhos, pois é necessário muita experiência para saber qual provérbio se aplica a uma situação. Se uma pessoa disser um provérbio na frente de outra pessoa mais velha, imediatamente pede desculpas e a mais velha faz uma prece desejando-lhe longa vida para poder dizer muitos provérbios. 

Em geral provérbios são conselhos sobre a conduta das pessoas em determinada situação. Uns são auto explicáveis, porém em sua maioria são ditos de forma simbólica, tirados de fábulas. Há dois tipos de provérbio, os que fazem afirmações sobre a vida, como "O orgulho vem antes de uma queda", e os que generalizam experiências particulares, como "Você pode levar um cavalo até à água, mas não pode fazê-lo beber". 

• Exemplo de provérbios: 

Enia lásán po ju igbe; enia rere han jú ojú. 

(As pessoas más são comuns como os arbustos, mas as boas são raras como os olhos.) 

Nwon ní kí arúgbó gbà omo pon ó ní sebí nwon mo pé on kò ni ehín. Nwon ní kí ó pa omo je ni? 

(Pediram à velha para ajudar a carregar a criança às costas. Ela respondeu: Mas vocês sabem que não tenho dentes. Alguém lhe pediu para comer a criança?) 

Eniti kò ní ìyàwó kò mbí àbikú. 

(Aquele que não tem esposa não sofrerá a perda dos filhos.) 

Oran se ni wò, kò a mo enití ó fe ni. 

(Quando temos problemas é que sabemos quem gosta de nós.) 

Orí tí yio je Ogedesùn kò ngbá. Bí nwon ngbé igba iyan bo a fun un, yio fo dandan ni. 

(Se alguém está destinado a comer bananas, certamente as comerá. Se lhe trouxerem purê de cará a vasilha se quebrará, de qualquer forma, no caminho.) 

Olówó pè ìlù o kò jó, ojo wo no o máa rí owó pè tire? 

(O rico paga uma orquestra, e você não dança. Mas quando você terá dinheiro para pagar uma?) 

A maioria dos provérbios iorubá fala das relações familiares, da posição de destaque dos mais velhos no grupo e das obrigações do indivíduo para com a sociedade. 

Alguns costumes e o provérbio correspondente: 

- A família é muito organizada, cada membro tendo seus direitos e deveres, até mesmo uma criança é tratada com respeito. Cada um tem seu lugar no grupo. 

Owo omode kò tó pepe, t'àgbalágbà kò wo kèrègbè. 

(A mão pequena da criança não pode alcançar a prateleira alta; a mão grande do adulto não pode penetrar no orifício estreito da cabaça.) 

- Como qualquer sociedade, os iorubá não estão livres dos maus sentimentos, como a inveja. 

Opekete ndàgbà, inú adámo mbàje, mo dì baba tán inú mbí won. 

(O crescimento da pequena palmeira evita que se lhe corte a palma. Eu me tornei pai e eles têm inveja.) 

- Como a mortalidade infantil é muito grande, há um medo constante de que o filho morra jovem. 

Omo kò áyolé, eni omo sin l'ó bi mo. 

(Só o homem cujo filho sobrevive tem netos.) 

- Uma criança é respeitada pela posição ou virtudes do pai. 

Ola baba ní ímú ni yan gbendeke. 

(É a honra do pai que permite ao filho caminhar com orgulho.) 

- O amor e a devoção da mãe são muito exaltados. 

Abiyamo se owo kòtu lù omo re. 

(A mãe bate em seu filho com a mão em concha.) 

- A posição mais importante é a dos velhos. 

Àgbà kò sí ìlú bàje 

(Quando não há velhos, a cidade se arruina.) 

- Uma das virtudes mais importantes é o tato. 

A kìí se ojú oníka mesan kà a. 

(Nunca seja visto contando os dedos de um homem que só tem nove.) 

- Os jovens devem ser humildes e admitir suas faltas. 

Elejo kì ímo ejo ro l'ebi k'ó pe lorí ìkúnle. 

(Aquele que admite suas faltas não as paga por muito tempo.) 

- Os presentes devem ser aceitos sempre de bom grado. 

Àwà-yó fi ara re gbodi. 

(Aquele que diz: Não queremos mais comida! torna-se impopular.) 

- A moderação é uma das virtudes mais elogiadas. Quem aspira alto demais é muito censurado. 

Nwon fi o je oba, o nwe Àwúre; o fe je Olorun ni? 

(Tendo-se tornado um rei você fica orgulhoso. Você quer tornar-se Deus?) 

- Visão é outra qualidade elogiada. Os provérbios criticam aqueles que não podem prever as conseqüências de suas ações. 

Obe nké ilé ara re ó ní oùn mba àko je. 

(A faca está destruindo sua própria casa, e você pensa que está simplesmente cortando um telhado velho.) 

Exemplos de Provérbios Africanos: 

"O tolo têm sede no meio de água." 

"Uma mentira estraga mil verdades." 

"O coração do homem sábio encontra-se quieto como a água límpida." 

"Até que os leões tenham as suas histórias, os contos de caça sempre glorificarão o caçador." 

"Depois de uma ação tola vem o remorso." 

"É a água calma e silenciosa que afoga um homem." 

"Um inimigo inteligente é melhor que um amigo estúpido." 

"Quando o rato ri do gato há um buraco perto." 

"Se você está construindo uma casa e um prego quebra, você deixa de construir, ou você muda o prego?" 

"Para quem não sabe, um jardim é uma floresta." 

"Uma vaca tem que pastar aonde está amarrada." 

"Como a ferida inflama o dedo, o pensamento inflama a mente." 

"Quem casa com a beleza casa-se com um problema." 

"Quando não existem inimigos interiores. Os inimigos exteriores não nos podem ferir." 

Fonte: CULTURA IORUBÁ - Costumes e Tradições
Maria Inez Couto de Almeida - Ifatosin

COLETÂNEA OXUM E O JOGO DE BÚZIOS - O ALICERCE DA FILOSOFIA

TEXTO CRIADO POR BABALORIXÁ MAURO DE OXUM


O alicerce da filosofia de Ifá é de que todos nós nascemos bons e abençoados e que somos seres divinos em uma jornada humana. A jornada humana é simbolizada pelo mercado e pela viagem em si. O mercado é um local onde o bom e o mal podem ser feitos, onde roubos e verdades se misturam. A viagem em si significa um movimento de um lugar para outro, onde no entremeio o inesperado pode ocorrer. Ifá diz que no final de qualquer viagem bem feita, há uma cama de paz e tranquilidade para aqueles que utilizaram iwá rere (bom caráter) como suas bússolas nesta viagem. 

Ifá ensina que a criação foi causada pelo o sonho da luz que se tornou visível no odu Eji Ogbè, que significa a elevação de ambas as mãos em direção ao céu – pois com o nascimento da luz veio também o seu contraste, Òyèkú méjì, que significa escuridão, o fim dos ciclos e a inalação que faz de Ogbè ativo. A idéia de levantar ambas as mãos ao céu implica em aceitar inícios e fins, luz e escuridão, com igual reverência e gratidão. 

O omo odu Ogbè’wori fala da necessidade de transformação no mundo, sobre como não podemos reconhecer a doçura do mel a menos que também tenhamos sentido a amargura do orogbo (o amargor da noz da cola). Um dos versos nos conta: 

Ogbè’worí 

B’áye wón ba ndùn 

B’áye wón bá ndàra 

Ìwá ibàjé wón nhú 

Tradução: 

Quando a vida é doce para eles 

Quando a vida é boa para eles 

É quando eles começam a se comportar mal 

O infortúnio e as complicações não são necessariamente a mesma coisa; uma complicação pode se tornar um infortúnio se abordarmos com resistência e negatividade. Quando assim o fazemos, alimentamos a complicação em nossa vida com orações pedindo para que mais complicações sejam trazidas para nós. No entanto, se abordarmos com interesse e tranquilidade, alimentamos as complicações com luz e bondade. 

Ifá é inflexível quanto a importância da ancestralidade; na verdade, todo o corpo de Odu Ifá é a sabedoria dos ancestrais. Ao tomar consciência das situações no passado e suas soluções, podemos efetivamente transformar situações indesejáveis em prosperidade, as complicações em abundância. 

Outro verso no livro de Ogbé fala sobre como o próprio Orunmila saiu em viagem encontrando o infortúnio, e não a abundância que ele procurava. O verso conta como ele saiu das águas de sua confusão emocional e pediu em lamento aos ‘dezesseis donos do mercado’ pela ajuda do pássaro chamado Agbe (Touraco Musophagidae). 

O pássaro azul Agbe é um anunciador de boa fortuna e diz-se expor os tesouros escondidos de Olokun, o dono do Oceano, quando a ele é solicitado. O verso também fala sobre como Orunmila fez o sacrifício apropriado, neste caso uma mudança de atitude, onde sua consciência errática foi acalmada e neste calmo estado de espírito ele foi capaz de lembrar da longa corrente de vitoriosas conquistas que o levaram a este momento difícil. 

O ensinamento é que as complicações em nossa jornada rumo à abundância também convidam a uma oportunidade ímpar para outras formas de vitória - enquanto nos aproximarmos com interesse e não com resistência, pois em cada dificuldade reside a promessa da vitória. De certo modo podemos dizer que Ifá vê complicações e dificuldades apenas como uma situação – a coloração é dada pela forma que abordamos a situação.