quarta-feira, 6 de março de 2013

COLETÂNEA O CANDOMBLÉ - OUTRAS NOÇÕES BÁSICAS


Candomblé é uma religião africana trazida pelo Negro que veio para o Brasil como escravo, com suas práticas ritualísticas, seus dialetos, sua visão de mundo, comidas, ritmos, músicas e danças que influenciaram na construção da sociedade brasileira. 

No Continente Africano, o Negro cultua seus Orixás e seus Antepassados (EGUNS) em diferentes áreas e regiões. Chegando ao Brasil, foram agrupados nas senzalas negros de várias nações, como estratégia de dominação plena pelos Senhores de Engenho, dificultando a integração entre os líderes e os sacerdotes que, mesmo assim, com o passar do tempo, conseguiram se reestruturar socialmente, retomando a prática do culto aos seus ORIXÁS

Em todo lugar da África a religiosidade e a espiritualidade, independentes da região, apresentam algumas características comuns: 

Expressão do culto através dos rituais e da dança. O negro dança para tudo: nascimento, casamento e morte, etc. 

É uma religião essencialmente voltada para cultuar a vida e a natureza, a integração da vida no universo e no mundo. Tudo é dinâmico. Tudo tem solução se bem integrado às forças da natureza que nos conduzem. 

É uma religião de transe mediúnico que se manifesta no corpo (incorporação). É uma religião iniciática (preparação do sacerdote). 

Acreditam que todos os homens fazem parte da mesma força universal, fluído cósmico universal e possuem uma energia inteligente protetora que filia e integra ao Cosmo – um ELEDÁ (Orixá) que ilumina no alto do seu Ori (cabeça) auxiliando na evolução espiritual durante essa sua existência no mundo físico. 

É uma religião Oracular e Oral. Oracular por usar vários processos adivinhatórios. Oral, pois a transmissão das tradições e do conhecimento se dá através da vivência, da experiência e da orientação da fala. É participando das obrigações e dos seus rituais que você aprende os fundamentos dos Orixás. 

O Candomblé é uma religião monoteísta, pois seus adeptos acreditam em um DEUS único criador – OLORUM, OLODUMARÉ, ZAMBÍ ou ZAMBIAPONGUE: e nos Orixás que representam as qualidades do Deus Superior. 

RITO ou RITUAIS – desde os XIRÊS (Festas Públicas) até os ritos mais internos, todos com a mesma proposta de integração da vida no sentido de renovação, mobilizando constantemente a comunicação entre os homens e os Orixás, entre o mundo terreno e o mundo espiritual. 

Trabalham com a noção de ÓRUM ou QUATENZALA – o mundo espiritual, espaço dos Orixás e dos Eguns; e a nação de AIYÊ, mundo físico, a vida na terra. Esses dois espaços estão em constante comunicação e intercâmbio e o culto aos Orixás tem a função de viver constantemente à relação entre os dois planos.

COLETÂNEA O CANDOMBLÉ - QUEBRA DE TABUS


Projeto Social Reúne Evangélicos e Católicos em um Terreiro de Umbanda 

Um grupo evangélico encontrou Jesus durante um trabalho de umbanda. Feito, inclusive, por eles com católicos e adeptos da religião espírita, com o intuito de interferir na vida de 130 famílias da Zona Oeste. Fiéis a um programa de estágio na Tenda Espírita Caboclo Flecheiro, em Santíssimo, os religiosos gospel contam que sentem a presença de Deus no projeto social. 

- Enxergo Deus e Jesus dentro desse terreiro. Eu precisava de um estágio e, quando fui convidada a participar, corri no banheiro da faculdade (evangélica) e orei: Senhor, entrego em tuas mãos. Vim confiante. O objetivo aqui é só a ajuda ao próximo - elogia Rosemere Mathias, de 48 anos, convertida na igreja Assembléia de Deus Nova Filadélfia. 

O encontro dos religiosos não tem qualquer vínculo litúrgico. Ao contrário, eles se reúnem apenas para celebrar o aprendizado do curso de Assistência Social, que já chegou ao seu 8 período em uma faculdade cristã. 

- Antes, eu tinha uma ideia horrorosa dos terreiros. Quando era mais nova, achava que tudo era obra do capeta. É que, na concepção de alguns evangélicos, Deus só está na igreja deles. Era falta de conhecimento minha - destaca a estagiária Andreia de Oliveira, de 35 anos, que atualmente procura uma igreja. 

Ação social 

O grupo se reúne no terreiro, a cada 15 dias, para distribuir pepinos às famílias assistidas. E também abacaxis, abóboras e bananas, além de frutas em geral. E, em uma sala, apuram a necessidade de cada uma - 80% delas evangélicas -, orientando-as em casos jurídicos, de saúde e até na retirada de documentos. Fora as palestras educativas sobre câncer de mama, verminoses e o uso de preservativos. E tudo gratuito. 

Uma alegria para a umbandista Meri Silva, de 45 anos, que convidou os amigos de turma para o estágio quando soube da necessidade de mão de obra social no terreiro. 

- No grupo de estágio, temos até um pastor e duas pastoras. Vejo o verdadeiro amor de Cristo neles. Fui cristã dos 9 aos 22 anos. Mas tive decepções e entrei em depressão. Fui acolhida aqui com amor - conta Meri, ex-evangélica. 

O dirigente do terreiro, Marco Xavier, também elogia o projeto “Fé com Atitude”, há um ano com os estagiários. 

- São excelentes religiosos por quebrarem tabus em relação a Umbanda - afirma Marco Xavier.

COLETÂNEA O CANDOMBLÉ - NAÇÃO NAGO EGBÁ



Em 1875, Inês Joaquina da Costa (Ifá Tuniké), mais conhecida como Tia Inês, desembarcava em Pernambuco vinda da cidade de Egbá, na Nigéria. Em sua mínima bagagem como por intuição do que estaria por vir, trouxe sementes e materiais usados no culto a Yemonjá, orixá cultuado na sua região, e mais algumas divindades cultuadas no panteão yorubá. 

Com o passar do tempo, ela se estabeleceu em Recife, no bairro de Água Fria, plantou as sementes das árvores sagradas, a exemplo da gameleira e do Baobá. E assim foi nascendo o Sítio de Tia Inês e uma forma de culto conhecida como Nagô Egbá, tendo sua casa matriz o próprio Sítio de Tia Inês, que mais tarde seria conhecido, registrado e tombado como Terreiro Obá Ogunté, estendendo-se então como culto mais conhecido em Recife e sua região metropolitana e como reflexo presente na cultura pernambucana. 

Após a morte da matriarca da nação Nagô Egbá, o Sítio de Tia Inês continuou aos cuidados de seus filhos adotivos e assim a regência passou a ser de pai para filho, causando assim mais uma característica da nação: o patriarcado, como sendo a maneira mais comum de herança. O mais conhecido entre os regentes foi Felipe Sabino da Costa (Ope Watanan), conhecido como Pai Adão, sua figura se mostrou tão popular dentro do culto que a casa passou a ser popularmente conhecida até hoje como Sítio do Pai Adão. 

Boa parte dos barracões, atualmente, é regida por zeladores, porém vale salientar que as casas mais tradicionais e mais respeitadas foram fundadas por mulheres. 

Os papéis do homem e da mulher são bem fixos no culto, os homens ganharam mais espaço e sempre por trás dos zeladores estão elas, as "senhorinhas" zeladoras os acompanhando. Observando conversas entre zeladores percebo certo machismo e muitas zeladoras repelem esses conceitos, arregaçam as mangas e constroem seus barracões, sendo eles regidos por elas e sendo elas auxiliadas pelos seus ogãs e ebamis, mostrando que o futuro poderá refletir novamente o passado. 

O Nagô Egbá se assemelha muito ao Ketu. É uma nação onde suas casas tradicionais mantêm as mesmas formas de culto e conceitos ensinados pelos seus antepassados, daí vem o por quê da quantidade de orixás cultuados, que citarei mais adiante, ser relativamente menor que a de outros cultos 

Como uma nação de origem yorubá, o Nagô Egbá comporta orixás, teorias e histórias mitológicas iguais ou muito próximas da nação Ketu. Além das pequenas diferenças em sua ritualística interna, a diferença mais clara está presente nas festas, nas formas como os orixás se manifestam e dançam durante os xirês. Os instrumentos principais mudam; no lugar do som mais agudo dos atabaques, está o som mais grave e compassado dos ilús. A sequência de orixás cantada durante a roda do xirê é a mesma em todas as casas e a das toadas geralmente também (provável herança da nossa casa matriz). 

Os orixás homenageados em ritual aberto ao público, o toque, são em menor número do que na nação Ketu, como já foi mencionado. São basicamente treze orixás cantados na seguinte sequência: Exu, Ogum, Odé, Obaluayê, Oxumaré, Nanã, Ewá, Obá, Oxum, Yemonjá, Xangô, Oyá e Oxalá. Ossaim tem seu culto e é sempre lembrado e homenageado durante os rituais internos e orôs; Iroko segue lembrado e cultuado nos terreiros na forma da imensa gameleira. 

Sobre o orixá Logum Edé, não há registro no culto Nagô Egbá, nós não negamos sua existência, apenas não há registro histórico sobre o orixá dentro do culto. Porém, há uma peculiaridade em relação a alguns outros cultos: o culto à Orunmilá é muito conhecido e difundido na nação com suas inúmeras cantigas cantadas durante as saídas dos balaios para Oxum e as panelas de Yemonjá, além de ser também lembrado na cerimônia de Bori. 

Houve um tempo, mais precisamente entre 1938 e 1948, em que os terreiros de Candomblé foram perseguidos, fechados e alguns até destruídos. Esse episódio ocorreu em diversas partes do país e não aconteceu diferente em Pernambuco. Muitos zeladores fecharam suas portas, abandonaram a religião, enquanto os que persistiram na sua fé faziam tudo á maneira mais escondida e disfarçada possível. 

"Era 31 de dezembro de 1948 e a comunidade de Água Fria, na Zona Norte de Recife, se aprontava para um ritual que há muito não se via, nem ouvia, a não ser em lugares secretos. Naquela noite poderiam outra vez cultuar seus deuses com o consentimento das autoridades. 

É claro que começou somente com o povo do terreiro do Sítio de Pai Adão. Os filhos e filhas de santo tocavam e dançavam ainda desconfiados; o batuque era discreto. Olhavam pelas janelas para ver se a polícia não apareceria para impedi-los, mais uma vez. As baianas usavam a saia branca do candomblé por cima de vestidos. Ficaria mais fácil de tirá-las caso os perseguidores chegassem de surpresa. Os que não acreditavam no que ouviam, aos poucos, iam se aproximando do salão do terreiro, onde acontecia um toque para Oxalá. 

De repente, um grito ecoa no salão. Era o orixá Ogum, manifestado em França, filha de santo antiga da casa. Os ogãs perderam a timidez; soltaram os braços e o toque se animou; os fiéis passaram a cantar mais alto, os cânticos a Oxalá. E os orixás da casa passaram a "descer". Mãe Joana Batista recebeu sua Iemanjá, e os demais médiuns passaram a entrar em transe e receber seus orixás. Com o passar dos dias, outros terreiros do Recife voltaram a praticar seus rituais de candomblé, livres da perseguição que durou dez anos. O fim do período marcado pelas constantes prisões de babalorixás e filhos de santo, e quebra-quebra da polícia quando encontrava imagens e símbolos africanos nas casas denunciadas, completa hoje sessenta anos." 

Esse episódio significou algumas perdas ao culto, perdas principalmente nos fundamentos de orixás recentemente inseridos ao culto durante aquela época, como Obaluayê, Nanã, Oxumaré, Ewá e Obá e que aos poucos iam sendo conhecidos pelos adeptos. E apenas os orixás mais conhecidos voltaram a ser cultuados, a exemplos: yemonjá, Oxum, Exu, Ogum, Xangô, Oyá e Odé. Com a inserção do ketu e do jeje-nagô em Pernambuco, a troca de informações fez e está fazendo, aos poucos, estes orixás que tiveram seus fundamentos perdidos voltarem a ser não apenas homenageados no xirê, mas também cultuados dentro da nação. 

(Este texto é de minha autoria, foi publicado primeiramente neste blog há anos atrás e agora está voltando à sua casa já que com a dimensão da internet muitos textos são copiados e não têm nem seus autores, nem sua fonte devidamente citadas). 

MENSAGEM RECEBIDA PELO MEU EMAIL PESSOAL MANUFESHOWBOY@YAHOO.COM.BR PELO BLOG O CANDOMBLÉ. 

COLETÂNEA O CANDOMBLÉ - NAÇÃO ANGOLA



*** Nação Angola*** 

A palavra Bantu compreende Angola e Congo, é uma das maiores nações do Candomblé, uma religião Afro-Brasileira. Desenvolveu-se entre escravos que falavam Quimbundo e Quicongo. 

** Terreiro de Tumba Junsara ** 

O Tumba Junsara foi fundado em 1919 em Acupe, na Rua Campo Grande, Santo Amaro da Purificação, Bahia, por dois irmãos de esteira cujos nomes eram: Manoel Rodrigues do Nascimento (dijina: Kambambe) e Manoel Ciriaco de Jesus (dijina: Ludyamungongo), ambos iniciados em 13 de junho de 1910 por Maria Genoveva do Bonfim, mais conhecida como Maria Nenem (Mam'etu Tuenda UnZambi, sua dijina), que era Mam'etu Riá N'Kisi do Terreiro Tumbensi, casa de Angola mais antiga da Bahia. Kambambe e Ludyamungongo tiveram Sinhá Badá como mãe-pequena e Tio Joaquim como pai-pequeno. 

O Tumba Junsara foi transferido para Pitanga, no mesmo município, e depois para o Beiru. Após algum tempo, foi novamente transferido, para a Ladeira do Pepino nº 70, e finalmente para Ladeira da Vila América, nº 2, Travessa nº 30, Avenida Vasco da Gama (que hoje se chama Vila Colombina) nº 30 - Vasco da Gama, Salvador, Bahia. 

Na época da fundação, os dois irmãos de esteira receberam de Sinhá Maria Nenem os cargos de Tata Kimbanda Kambambe e Tata Ludyamungongo. Manoel Ciriaco de Jesus fez muitas lideranças de várias casas, como Emiliana do Terreiro do Bogum, Mãe Menininha do Gantois, Ilê Babá Agboulá (Amoreiras), onde obteve cargos. Tata Nlundi ia Mungongo teve como seu primeiro filho de santo (rianga) Ricardino, cuja dijina era Angorense. 

No primeiro barco (recolhimento) de Tata Nlundi ia Mungongo, foram iniciados 06 azenza (plural de muzenza). Em sendo o seu primeiro barco, ele chamou o pessoal do Bogum para ajudar. Os 03 primeiros azenza do barco foram iniciados segundo os fundamentos do Bogun: Angorense (Mukisi Hongolo), Nanansi (Mukisi Nzumba) e Jijau (Mukisi Kaviungu), os 03 outros azenza foram iniciados segundo os fundamentos do Tumba Junsara. 

No Rio de Janeiro, fundou, com o Sr. Deoclecio (dijina: Luemim), uma casa de culto em Vilar dos Teles (não se sabe a data da fundação nem a relação de pessoas iniciadas). Dentre as pessoas iniciadas, ainda existe, na Rua do Carmo, 34, Vilar dos Teles, uma delas, Tata Talagy, filho de Sr. Deoclecio . 

Com a morte de Manoel Rodrigues do Nascimento (Kambambe), que assumira sozinho a direção do Tumba Junsara, Manoel Ciriaco de Jesus (Ludyamungongo) assumiu a direção até sua morte, a qual ocorreu em 4 de dezembro de 1965. 

Com a morte de Manoel Ciriaco de Jesus (Ludyamungongo), assumiu a direção do Tumba Junsara a Sra. Maria José de Jesus (Deré Lubidí), que foi responsável pelo ritual denominado Ntambi de Ciriaco, juntamente com o sr. Narciso Oliveira (Tata Senzala) e o sr. Nilton Marofá. 

Deré Lubidí era Mam'etu Riá N'Kisi do Ntumbensara, hoje situado à Rua Alto do Genipapeiro - Plataforma, Salvador, Bahia, e de responsabilidade do sr. Antonio Messias (Kajaungongo). 

Em 13 de dezembro de 1965, após o ritual de Ntambi, Maria José de Jesus (Deré Lubidí) passa a direção do Ntumbensara para Benedito Duarte (Tata Nzambangô) e Gregório da Cruz (Tata Lemboracimbe), e em ato secreto é empossada Mam'etu Riá N'Kisi do Tumba Junsara. 

Maria José de Jesus (Deré Lubidí), em 1924 recebeu o cargo de Kota Kamukenge do Tumba Junçara, e em 1932, o cargo de Mam'etu Riá N'Kisi. Em 1953 fundou o Ntumbensara, na Rua José Pititinga nº 10 - Cosme de Farias, Salvador, Bahia, que em 18 de outubro de 1964 foi transferido para o Alto do Genipapeiro. 

Com o falecimento de Deré Lubidí, assumiu a direção do Tumba Junsara a Sra. Iraildes Maria da Cunha (Mesoeji), nascida aos 26 de junho de 1953 e iniciada em 15 de novembro de 1953, permanecendo no cargo até o presente momento. 

Esta é uma síntese do histórico do Tumba Junsara, com agradecimento especial a Esmeraldo Emeterio de Santana Filho, "Tata Zingue Lunbondo", pelo referente histórico, e também a "Tata Quandiamdembu", Esmeraldo Emetério de Santana, o Sr. Benzinho, pois sem sua colaboração não poderíamos ter chegado a tais fatos. 

** Terreiro do Bate Folha ** 

Terreiro Bate Folha, Mansu Banduquenqué, Sociedade Beneficente Santa Bárbara do Bate Folha, localizado na Travessa de São Jorge, 65 - Mata Escura do Retiro, Salvador, Bahia, foi fundado em 1916 pelo Tata Manoel Bernardino da Paixão e, atualmente, é presidido por Tata Mulandure, Edualino Cipriano de Souza. O terreiro possui a maior área urbana remanescente da Mata Atlântica, aproximadamente 15,5 hectares. Foi tombado pelo IPHAN em 10 de outubro de 2003. 

No ano de 1881, Salvador, Bahia, nasceu Manoel Bernardino da Paixão. Quando já contava 38 anos de idade, Bernardino foi iniciado na Nação do Congo pelo Muxikongo (designação dos naturais do Kongo), por Manoel Nkosi, sacerdote iniciado na África, recebendo então, a dijína de Ampumandezu. 

Depois da morte de Manoel Nkosi, Bernardino transferiu-se para a casa de sua amiga inseparável Maria Genoveva do Bonfim - Mam´etu Tuhenda Nzambi, mais conhecida como Maria Nenem, mãe do Angola na Bahia, onde tirou a Maku-a-Mvumbi (Mão do Morto). 

Maria Nenem era filha de santo de Roberto Barros Reis, escravo angolano, de propriedade da família Barros Reis, que lhe emprestou o nome pelo qual era conhecido. A cerimônia de Maku-a-Mvumbi, à qual Bernardino se submeteu em 13 de junho de 1910, coincidiu com a iniciação de Manoel Ciriáco de Jesus, nascido em 8 de agosto de 1892, também na Bahia, o que ocasionou a ligação estabelecida entre Bernardino e Ciriáco que, anos mais tarde, com o falecimento de seu irmão de santo mais velho, Manoel Kambambi, que na época tinha casa aberta na Bahia, Ciriáco sucedeu kambambi, no terreiro que hoje é conhecido por Tumba Junsara. 

Com o passar do tempo, Bernardino já muito famoso, fundou o Candomblé Bate-Folha, situado na Mata Escura, em Salvador, Bahia. O terreno onde está estabelecido o Candomblé, é cercado de árvores centenárias e considerado o maior terreiro do Brasil que, na época, foi presenteado à Bamburusema, seu segundo mukixi, já que o primeiro era Lemba. 

Desta forma fica claro que, pelas origens de Manoel Nkosi, o Bate-Folha é Congo e, mantém o Angola, por parte de Maria Nenem. 

Foi no dia 4 de dezembro de 1929 que Bernardino tirou seu primeiro barco, cujo Rianga (1º Filho da casa) foi João Correia de Mello, que também era de Lemba. 

Por volta de 1930, João Correia de Mello, já então conhecido como João Lessengue (Lesenge), mudou-se para o Rio de Janeiro. 

Ao chegar, Lesenge foi morar na Rua Navarro, no Catumbi, havendo trazido em sua companhia alguns irmãos de santo, dentre os quais, se destaca por sua atuação Mãe Ngukui, componente do terceiro barco de Bernardino. 

Ngukui seria então o braço direito de Joao Lessengue na sua nova empreitada no Rio de Janeiro. Aqui, João Lessengue conheceu outras pessoas de santo em sua maioria oriunda da Bahia, passando então a participar dos rituais das diversas casas de candomblé já existentes na cidade. 

Diversas personalidades importantes do candomblé faziam parte de seu círculo de amizades, como Ebomi Dila, Mãe Agripina do Opo Afonjá, Mãe Teté, Mãe Bida de Iemanjá, Joana Cruz, Joana Obasi, Mãe Andreza, Guiomar de Ogun, Mãe Damiana, Tata Fomotinho, Vicente Bankolê, Ciriáco, América, Adalgisa, Marieta, Tia Marota, Obaladê, Nair de Oxalá, Marina de Ossãe, Nino de Ogun, Mundinho de Formigas, Otávio da Ilha Amarela, Ogan Caboclo, Álvaro do Pé-Grande, Mãe Teodora de Yemanjá, etc. No início dos anos 40, Lesenge comprou um terreno com aproximadamente 5.000 metros quadrados, no bairro Anchieta, fundando ali, o Bate-Folha do Rio de Janeiro. 

Ao longo dos anos João Lessengue tirou doze barcos, sendo o primeiro em 26 de novembro de 1944, e o último em 8 de novembro de 1969.No dia 29 de setembro de 1970, às 23:40hs., morre João Lesenge, o senhor do Bonfim de Anchieta. Após o falecimento de Tata Lesenge em 1970, a roça atravessou um prolongado luto. 

Foi somente em 1972, em ocasião de Luvalu (cerimônia de sucessão), que o Bate-Folha do Rio de janeiro reabriu, sendo ali investida no cargo como Mamétu riá Nkisi (sacerdote chefe), sua sobrinha e filha de santo, Mabeji - Floripes Correia da Silva Gomes), tornando-se, herdeira de seu tio Lesenge em todo o sentido da palavra. 

Mam´etu Mabeji, baiana do bairro da Liberdade, chegou ao Rio de Janeiro para residir com o Sr. João Lesenge em 19 de outubro de 1946 e, iniciou-se no candomblé em 20 de abril de 1947. A partir desta data, Mabeji começa a fazer parte da história do Bate-Folha. 

Por volta dos anos 50, em companhia de um índio Irapuru, chega ao Bate-Folha o Sr. José Milagres. Com o passar do tempo, Milagres casa-se com Mabeji e posteriormente, se confirma na casa como Pokó (sacrificador de animais) passando então a ser conhecido como Tata Nguzu-a-Nzambi, sua dijina. Dai em diante, Tata Nguzu tem sido um guerreiro incansável na preservação da roça em Anchieta. Em virtude da grande obra que está sendo feita, o Bate-Folha não vem proporcionando ao público suas maravilhosas festas, realizando apenas, às obrigações internas. Ressaltando, para que fique explícito às muitas pessoas que, por não terem mais notícias das famosas festas em Anchieta, comentam que o Bate-Folha acabou. 

Ressaltando ainda, que em abril do ano de (1997), o bate-Folha reabriu suas portas para a grande festa do século, ocasião em que foi comemorado os 50 anos de santo de Mam´etu Mabeji, mãe do Kongo/Angola no Rio de Janeiro. 

** Jinkices - Os Deuses Angoleiros ** 

Aluvaiá, Pambu Njila - Intermediário entre os seres humanos e os outros Jinkices. 

Nkoci, Roxi Mukumbe - Jinkice da guerra, senhor das entradas de terra. 

Ngunzu - Engloba as energias dos caçadores de animais, pastores, criadores de gado e daqueles que vivem embrenhados nas profundezas das matas, dominando as partes onde o sol não penetra. 

Kabila - O caçador pastor. É aquele que cuida dos rebanhos da floresta. 

Mutalambô, Lambaranguange - Caçador, vive em florestas e montanhas, Jinkice da comida abundante. 

Gongobila - Jovem caçador e pescador. 

Mutakalambô - Tem o domínio das partes mais profundas e densas das florestas, onde o Sol não alcança o solo por não penetrar pela copa das árvores. 

Katendê - Senhor das Jinsabas (Folhas). Conhece os segredos das ervas medicinais. 

Loango - É o próprio raio, entrega justiça aos seres humanos. 

Kaviungo, Kafungê, Kingongo, Kafundeji - Jinkice da varíola, das doenças e suas curas. 

Nsumbu - Senhor da terra, também chamado de Ntoto pelo povo Yorubá. 

Hongolo (Masculino) e Hongoloméia (Feminino) - Representado pelo arco-irís e pela cobra que morde o próprio rabo. 

Kindembu - Rei de Angola. Senhor do tempo e das estações. É representado nas casas de Angola por um mastro com uma bandeira branca, chamada de bandeira de Tempo. 

Kaiangô - Senhora do fogo. 

Matamba, Nunvurucemavula - Caminhos de Kaiango. Guerreira, comanda os Nvumbe (Mortos). 

Bambulucema - Senhora das ilhas. 

Kisimbi, Samba Jinkice - A grande mãe, Jinkice dos lagos e rios. 

Ndanda Lunda - Senhora da fertilidade e da lua. 

Kaiutumba, Kokueto - Jinkice dos oceanos e do mar. 

Nzumba - A mais velha das Jinkices, está conectada com a morte. 

Nvunji - O mais jovem dos Jinkices, senhor da justiça. Representa a felicidade da juventude e toma conta dos filhos recolhidos. 

Lemba Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Nkassuté, Lembá e Gangaiobanda - Conectado á criação do mundo.