sexta-feira, 2 de março de 2012

A QUESTÃO DO PECADO NO OLHAR DO CANDOMBLÉ – PARTE I


Motumbá irmãos (as), do BLOG OLHOS DE OXALÁ.

Após terminar nosso ESTUDO SOBRE A CRIAÇÃO SOB O OLHAR DO CANDOMBLÉ, dividido em três (3) partes. Estamos agora nos preparando para abordar este novo tema que para os CATÓLICOS tem um peso enorme.

Peso este, já não enxergado da mesma forma pelo CANDOMBLÉ. Estou falando do PECADO ORIGINAL, ou como os protestantes falam, a CULPA ORIGINAL, Gn 3; 1 – 4.


Na BÍBLIA SAGRADA CRISTÃ, o texto se dá em torno de IROKO (ARVORE DO CONHEÇIMENTO DO BEM E DO MAL), e da primeira (1ª) aparição da grande serpente. A mesma que no estudo sobre a criação, destacamos sua importância em maior valor entre os animais rasteiros, por sua astúcia, inteligência e sabedoria; estou me referindo à OXUMARÊ.

Gn 3; 1 diz: “A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que Olorum havia formado”. Neste trecho, percebemos claramente a descrição deste Orixá, que não permite que coisas escondidas permaneçam muito tempo, desta forma, colocando tudo as claras.

Por andar entre as ervas, conheceu alguns de seus segredos, exercendo sobre as enfermidades o seu lado curandeiro. Vemos que esta grande serpente mantém um diálogo com a primeira mulher sobre o fato de comer o fruto da arvore do conhecimento do bem e do mal. Fruto este proibido por Olorum de se comer.


O segredo deste dito fruto, que pode conter toda uma simbologia, ao relatar que não seria a morte em si o grande segredo, nele contido. Mas, o fato do homem, vir a conhecer o seu lado divino, discernindo coisas entre o bem e o mal. De fato percebemos que OXUMARÊ, procurou esclarecer fatos escondidos, e colocando de forma clara o que aconteceria.

Para os cristãos, a representação desta dita “serpente”, seria na verdade um símbolo bíblico dentro de toda a simbologia teológica. É representado ou indica a “força da tentação” para uns; e do “diabo” para outros, conforme sua crença.

Mas percebemos na verdade a origem do livre arbítrio, pois o fato de comer-se o fruto ou não, poderia ter sido decidido naquele instante. Como de fato ocorreu: "o fruto foi ingerido". Este fato, repetiu-se novamente quando aquela mulher foi oferecer ao homem que podia recusá-lo, mas pelo livre arbítrio, acabou consumindo o fruto também.


Após estes fatos, percebemos outro diálogo entre a criatura (homem), com o Senhor Deus (representado por Oxalufã, que soprou em suas narinas). Diálogo este, que demonstra a consciência do homem que se esconde de Oxalufã, por sua vergonha em estarem nus. Percebe-se que todos os olhos da consciência sobre sua aparência física perante o Orixá, de fato se deu início.


Este fato persiste até hoje, onde cada Abian, yawôs, Egbomi, quem quer que seja o grau sacerdotal que for, não pode entrar de forma inadequada perante o Orixá. Muito menos na CASA DE SANTO, BARRACÃO, ROÇA, TERREIRO, ILÊ, QUARTO DE SANTO, seja o que for.

Prosseguindo o texto bíblico em questão, nos versículos de 11 a 13, do Capítulo 3, Oxalufã, questiona a situação. Como fruto vemos o resultado: a CULPA. Cada um assume  o seu erro, baseado na culpa do outro:
- mulher – culpa a Serpente;
- homem – culpa a Mulher;

Como resultado, OXUMARÊ, recebe como que uma maldição, vindo a andar sobre o seu próprio ventre (rastejar) e torna-se um temível perante as outras criações. Gn 3; 14 – 16.


Nesta situação, a primeira mulher recebe também o fruto de seu ato: o ÓDIO (asco) entre a sua descendência e da cobra. Uma situação física que continua até hoje, através do pavor e receio que o homem tem sempre ao lidar com uma serpente. No seu lado físico, a primeira mulher recebeu as dores de seu parto, de forma multiplicada. Bem como seus desejos perante o homem e sua submissão. Fato hoje ainda presentes no dia a dia da mulher. Bem como nas casas de santo, existem certos preceitos em que a mulher não pode exercer ou participar devido a sua condição do ciclo menstrual ou hormonal.


O homem também recebeu os frutos de seu ato, Gn 3; 17 – 19. A terra, tornou-se um lugar amaldiçoado, onde dela o homem deve tirar o seu próprio sustento, com trabalhos penosos. Ou seja, o homem recebe seu sustento, através do sacrifício no trabalho.

Ao falarmos “a terra seja maldita” faz-se uma ligação clara na MITOLOGIA DOS ORIXÁS, quando NANÃ (Senhora dos pântanos), recebe a incumbência e poder sobre a morte. Bem como, OMULU, nasce com seu corpo coberto pela varíola. Percebemos que neste ato, todo o reino da terra, recebe alterações em seu comportamento. Realidade contida, quando o homem recebe o conhecimento de seu retorno a terra de onde foi criado; Gn 3; 19b.

Mas perante esta situação, percebemos que o homem foi revestido de peles de animais e como as forças da natureza (Orixás), tornou-se conhecedor do bem e do mal. Houve a preocupação de todos sobre o homem, quando OXALUFÃ diz: “CUIDEMOS”,  Gn 3; 22. Ou seja, o homem é então zelado por todos os Orixás, que passam a operar em suas vidas.


Existe acima de tudo uma preocupação para evitar-se que o homem não venha a comer do fruto da árvore da vida, estou me referindo a ODUDUA. Fato que até hoje o seu culto é mais restrito que os outros Orixás. Expulso do dito Ilê, que já sabemos tratar-se de Ifé, começando sua batalha pelo seu sustento.


Assim, espero que esta contribuição tenha sido prazerosa, lembrando que esta parte de nosso ESTUDO, vai ser dividida em duas utilizando outros Capítulos e Livros da Bíblia Cristã, sempre sob o olhar CANDOMBLECISTA.

Axé. 

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