A Troca de Divindades, Muitos Querem Ser do Òrìsà da Moda.
As questões Éticas do Candomblé, embora abrangentes, estão sendo deixadas de lado por grande parte da população Candomblecista. Por essa razão, nós do Terreiro de Òsùmàrè, resolvemos publicar essa série de postagens, com o objetivo de recordar isso que é tão importante para a sobrevivência da nossa cultura. É ainda, uma forma de interação com os nossos leitores, que há algum tempo, vêm nos pedindo artigos sobre os temas inerentes a Ética Moral e Religiosa do Candomblé.
Hoje vamos abordar um tema bastante recorrente na última década e, principalmente, nos últimos anos, que é a mudança de Òrìsà de uma pessoa iniciada.
Há duas molas propulsoras para esse “fenômeno”. A primeira, mencionada em nossa postagem anterior, é o Sacerdote caçador de cabeças, que fala para o iniciado que ele deve mudar de santo, que tudo que fizeram está errado, etc.. A segunda e também em número crescente é o iniciado que almeja trocar de santo – para “passar a ser” do chamado “Òrìsà da Moda”. Em ambos os casos, a Ética é deixada de lado, seja pelo Sacerdote, seja pelo Omo Òrìsà.
Infelizmente, observamos com pesar que algumas pessoas que foram iniciadas para uma Divindade, muitas vezes por modismo temporal, resolvem esquecer que são dessa Divindade para “passar a ser” do “Òrìsà da Moda” (resumidamente, Yewa, Iroko e Oba), isso se torna ofensivo à Ética Moral, sobretudo quando há Sacerdotes que atestam essa condição.
Em miúdos, isso significa que, uma pessoa que é filha de Òsun hoje, pode achar que Yewa está mais na moda e procura alguém que lhe “coloque” esse Òrìsà em seu Orì, certificando-a na sala. Aqui, ao invés da busca do Sacerdote em querer valer a sua “autoridade” está a busca pela ascensão financeira. Ou seja, se a pessoa pagar bem, eu digo que ela é do Òrìsà que ela almejar. Novamente a Ética e Moral são deixadas de lado, bem como, a sentido da religião, que é a vontade do Òrìsà.
Mas porque alguns Omo Òrìsà fazem isso? Em verdade, acreditam que sendo de uma Divindade “da Moda”, terão ascensão religiosa e prestígio. No entanto, se esquecem do Òrìsà que foi cultuado por anos, o que certamente lhe trará prejuízos futuramente.
Mas onde foi parar a Divindade que ao longo de anos manifestou aquela pessoa que, a partir de agora, diz ser filho de um “Òrìsà da Moda”? Aqui está a parte mais complexa: Será que a Divindade deixou de manifestar aquela pessoa? Será que a “nova” Divindade que manifesta a pessoa, verdadeiramente é a Divindade que eles acreditam ser? Será tratar-se de um Òrìsà?
O Candomblé é uma religião muito complexa, que muitos podem acreditar conhecer, mas que esconde segredos difíceis de serem compreendidos e assimilados.
A cabeça do ser humano é algo muito sério, razão pela qual, tudo que é feito na cabeça de uma pessoa deve ser com muito cuidado, atenção e, sabedoria.
Obviamente, todos, invariavelmente são suscetíveis a erros e falhas, mas as Casas de Candomblé mais antigas precisam se manifestar contrárias àqueles que acreditam estar acima do bem e do mal e, principalmente, àqueles que acreditam estar acima do próprio Òrìsà.
Não se pode ficar mudando de Òrìsà como se muda de roupa. Òrìsà é o Deus que nos rege, que cuida, que zela por nós. Não se pode descartá-lo.
É fundamental que a Ética, a Moral e os Valores sejam relembrados, é importante deixarmos de pregar a união, para de fato fazermos a união. O Candomblé não possui um colegiado formal de sacerdotes, mas não duvidem, ainda há um grupo sério de sacerdotes que atentamente está observando com atenção, tudo o que está ocorrendo acerca do Candomblé.
Que nosso Pai Òsùmàrè Àráká cubra de bênçãos cada pessoa que, verdadeiramente, está voltada para a religião dos Òrìsàs.
Ilé Òsùmàrè Arákà Asè Ògòdó