Ifá é uma disciplina espiritual enraizada na idéia de que o desenvolvimento de Iwá Pèlé ou Bom Caráter é a chave para entender o destino.
Há um provérbio iorubá que diz: Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó. Este provérbio traduzido aproximadamente significa: Destino é bom caráter, bom caráter é destino.
É a partir da referência mítica que se diz: "... quando o destino é incerto, é o bom caráter que eu escolherei."
A ingerência metafísica aqui é clara, se você está incerto sobre o seu destino simplesmente faça a coisa certa naquele momento. Nascemos ómó rere, que significa: boas pessoas e bem-aventuradas. O que sugere que fazendo a coisa certa no momento certo não poderemos estar em oposição ao nosso destino.
A língua litúrgica Iorubá é freqüentemente criada através do uso de elisões. Uma elisão é uma sentença encurtada em língua iorubá para formar uma palavra.
Por exemplo, a palavra Ifáyabale é uma referência em Ifá ao ritual de resolução de disputas. A palavra é Ifáyabale, elisão Ìyá bàbá ilé. Significando: A sabedoria das mães e pais da terra.
Isto é tanto uma referência ao processo ritual como uma indicação clara da metodologia da resolução dos problemas.
É com a orientação dos mais velhos que nós resolvemos nossos conflitos. Vamos usar a metodologia de análise da linguagem para termos outro olhar para a frase: Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó. Da elisão: Ayanmó ni Iwá ope ile Iwá ope ni ayanmó.
Temos a tradução do destino inicial sugerindo que o bom caráter é o nosso destino e nós temos uma camada mais profunda que significa olharmos para as palavras originais que formam as elisões da sentença.
A tradução torna-se então a árvore ancestral. É o caminho para saudar a terra, saudamos a terra através da árvore ancestral.
Quando olhamos para a fonte das elisões começamos a entender o contexto desta cultura que leva à criação de palavras e frases usadas para expressar idéias espirituais.
A árvore Ayan é usada na cultura iorubá tradicional como um altar ancestral. A idéia de uma árvore sendo usada como um altar ancestral é baseado no símbolo da árvore da vida, o que significa que vem das raízes, nos torna o motor que da a luz e as mudas.
Uma árvore é uma manifestação viva dos ciclos de: vida (Ogbè méjì), morte (Òyèkú méjì), transformação (Ìwòrì méjì) e renascimento (Òdí méjì).
Ayan está servindo como um lar para centenas de grandes e antigas espécies de animais que vivem em harmonia em um espaço muito pequeno.
Esta harmonia cria o ventre do igbodu (cabaça da existência) que é o significado da floresta. Um igbodu é um portal inter-dimensional que liga o Òrum ao Ayè ou o Céu a Terra. Esses portais criam flashes de luz ao redor da árvore que se parece com lâmpadas se acendendo. Estes flashes de luz são chamados de Espírito do Pássaro Éyèle, significado que o pássaro Éyèle é usado pelas mães mais velhas para se comunicar diretamente com os Imortais no Òrun. A árvore Ayan também é usada para fazer tambores bata que são usados para se comunicar com Egun e alguns Ebora.
Egun é o espírito coletivo da linhagem ancestral de uma pessoa. Eborá são ancestrais divinizados que funcionam como avatares das Forças da Natureza chamado geralmente de òrìsá. A árvore Ayan é o lugar onde o iorubá tradicional se comunica com seus ancestrais e da árvore Ayan é feito o tambor que é usado para invocar os estados alterados de consciência que melhoraram esta comunicação.
Então, o que o provérbio, Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó, está nos dizendo?
Ele está dizendo que devemos usar a sabedoria dos antepassados para saudar a Terra. Aos nossos olhos pode nos parecer uma expressão estranha, especialmente no que se refere à idéia de Bom Caráter (Iwá Pèlé).
Na cultura iorubá tradicional você deve cumprimentar uma pessoa idosa. É o trabalho dos mais velhos que nos guiará no caminho do desenvolvimento espiritual. Dizemos que os anciãos guiam-nos para saudar a Terra e chamar a Terra de ancião e dar a entender que devemos viver em harmonia com a Terra, pois esta é a chave para o crescimento espiritual. Ifá está enraizado na idéia de atunwá (reencarnação).
A crença da cultura iorubá tradicional é a de que estamos renascendo dentro de nossa linhagem biológica e que o nosso nascimento traz consigo a responsabilidade moral de corrigir o que está quebrado na história de nossa família. Para que essa evolução espiritual ocorra os seres humanos precisam de um lugar para viver a experiência com atunwá e o lugar que escolhemos é chamado Onilé ou Terra.
Se Onilé morre a experiência com atunwá morre com ele. Isso significa que nossa primeira obrigação espiritual e disciplinar é desenvolver o Bom Caráter e cuidar da Terra. Em termos simples, nós temos a obrigação moral de deixar a Terra como um lugar melhor de se viver. A Terra é a plataforma através da qual nós escolhemos para abraçar o processo de crescimento espiritual. Na minha humilde opinião os humanos não estão fazendo um trabalho tão bom em deixar a Terra em melhor forma do que a encontramos.
Ifá pode consertar um mundo quebrado. Esta frase faz parte das escrituras sagradas. Eu acredito que seja verdade.
Oração coletiva é entendida na cultura iorubá tradicional como a capacidade de abrir portais na Terra. Esses portais são chamados ventre do igbodu, que significa ‘a floresta’. Para uma cultura que define o Bom Caráter por meio da elisão Iwá Pèlé, a idéia de portais abertos por meio do uso da oração não é difícil de entender.
Recentemente eu terminei uma questão sobre a visão de uma cidade americana. Esta área foi utilizada por antigas culturas indígenas nos Estados Unidos como um centro de ritual e centro de treinamento para o sacerdócio. O canyon contém kivas numerosas.
A kiva é um círculo de pedras enterradas no solo e utilizadas para realizar o ritual. Os kivas em Chaco Canyon são o seu igbodu. Eles são portais para os reinos invisíveis da Criação que Ifá chama de Òrum. Fui abençoado em Chaco Canyon ao receber instruções sobre a Terra. No mesmo momento em que eu recebi uma mensagem no Canyon uma tempestade de vento soprou e se abriram as portas da minha casa que ficava a 600 milhas de distância. Cada vez que eu piso em uma kiva sou imediatamente saudado com uma visão nova e diferente.
Era uma espécie de mudar os canais na TV. Consciência? Talvez. Eu prefiro acreditar que quando chegamos para saudar a Terra, a Terra irá responder, dando-nos orientação.
Isso é o que fazem os anciãos, pois a Terra é a Mãe de todos. Vivemos em um universo holográfico. Isso significa que sempre haverá manifestação da Criação, isto está contido dentro de cada átomo da Criação. As informações que precisamos para corrigir o que está quebrado estão ao nosso redor e em toda parte. A pergunta é:
Como podemos acessar essa informação? Temos acesso à informação para a saudação da Terra, significando, sabermos humildemente usar a sabedoria dos antepassados para nos ensinar como nos comunicar com Ayan, a árvore da sabedoria ancestral.
Esta idéia foi muito bem expressa no filme Avatar quando a árvore, no centro da comunidade indígena, reunia os recursos do planeta para defender-se contra uma invasão militar. Sim, eu sei que era um filme, porém está enraizado na verdade.
Ire o.
Por: Áwo Fatunmbi