segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

COLETÂNEA OXUM, NOS CAMINHOS INICIATICOS - A IMPORTÂNCIA DO SACERDÓCIO


Hoje, me encontrava verificando algumas das postagens antigas do FACEBOOK e percebi que parte do meu tempo fixou-se na leitura de um tópico de um amigo virtual chamado DOFFY JAGUM

Um tópico que de fato, em sua simplicidade fala de fato e de forma coerente os absurdos que muitas vezes em nossa RELIGIOSIDADE. E fico me perguntando o que estamos esperando para por ordem na CAUSA? Mas enfim, leiam o texto e vejam comigo até que ponto isso anda. 

Sacerdócio e doação 


Hoje conversando com um amigo ele me disse todo feliz e empolgado: “Fui ao terreiro o Caboclo me disse que eu serei Pai de Santo... Estou tão feliz” 

E eu parei e comecei a refletir.... 

Como é vislumbrante essa ideia de ser Pai de Santo; todos pensam no poder, no Status, na fama, no mandar, no ser “rei” e ter todos a seus pés. Mas esquecem que sacerdócio na execução máxima de seu exercício é doação. 

Doar amor, sabedoria, fé, entendimento, força e tantas outras coisas necessárias a vida de sua Comunidade Terreiro e que isso implica inclusive na abdicação de sua vida pessoal e social. 

Pois ser Sacerdote é disponibilizar a vida em prol ao outro, as dores, sofrimentos, angústias, problemas de todas as formas e variedades , é conviver com seu povo em sua Comunidade orientando, ajudando sendo as vezes e na grande maioria mal interpretado por seus Omo Orisá, tendo de conviver com a ingratidão e a falta de amor, a ausência e o descompromisso pessoal de seu povo com o Asé, com Orisá e sua s funções religiosas; se entregar em serviço a vida e a fé sem ao menos poder esmorecer, saber conduzir e formar pessoas para o Mundo e religião. 

Enfim enquanto muitos se vislumbram e se engrandecem eu hoje assim penso: 

"Sacerdócio e uma missão delegada por Olodumaré a quem se disponibilizou a servir, a ser mais que um chefe mas sim um mensageiro de nossos Orisás e Ancestres pois foram deles que recebemos e temos a missão de continuar a perpetuação de nossa crença e fé"

A todos meus respeitos 

Babalorisá Jagun Tobi "Doffy Jagum''

COLETÂNEA OXUM, NOS CAMINHOS INICIÁTICOS - HIERARQUIA

Hierarquia


As posições principais do Ketu (são chamados de cargo ou posto, em yoruba Olóyès , Ogãns e Àjòiès), em termos de autoridade, são: 

O cargo de autoridade máxima dentro de uma casa de candomblé é o de Iyálorixá (mãe-de-santo) ou Babalorixá (pai-de-santo). São pessoas escolhidas pelos Orixás para ocupar esse posto. São sacerdotes, que após muitos anos de estudo adquiriram o conhecimento para tal função. 

Quando a pessoa escolhida através do jogo de búzios ainda não está preparada para assumir o posto, terá que ser assistida por todos Egbomis (meu irmão mais velho) da casa para obter o conhecimento necessário. Iyalorixá ou Babalorixá. A palavra iyá do yoruba significa mãe, babá significa pai. 

Iyakekerê (mulher): mãe pequena, segunda sacerdotisa. 

Babakekerê (homem): pai pequeno, segundo sacerdote. 

Iyalaxé (mulher): cuida dos objetos rituais. 

Ojubonã ou Agibonã: mãe criadeira, supervisiona e ajuda na iniciação. 

Egbomis: são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: egbon mi, "meu irmão mais velho"). 

Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas-de-santo. 

Iaô: filha-de-santo que já entra em transe. 

Abiã ou abian: novato. 

Axogun: responsável pelo sacrifício dos animais (não entra em transe). 

Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques (não entra em transe).  

Ogãs ou Ogans: tocadores de atabaques (não entram em transe). 

Ajoiê ou ekedi: camareira do Orixá (não entra em transe). Na Casa Branca do Engenho Velho, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Gantois, de "Iyárobá" e na Angola, é chamada de "makota de angúzo". "Ekedi" é nome de origem Jeje, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil. 

Desta forma, amados amigos(as), damos início a futura formação numa página própria que já esta sendo construída sobre a HIERARQUIA dentro do Candomblé. Onde viso explicar de fato cada função (cargo) dentro de uma casa de Candomblé a fim de sabermos valorizar a cada uma e desta forma conheçermos um pouco mais sobre a beleza de nossa religiosidade.

COLETÂNEA OXUM, NOS CAMINHOS INICIÁTICOS - A OBRIGAÇÃO DE SETE ANOS


Motumbá meus (minhas) irmãos (ãs) do BLOG OLHOS DE OXALÁ

Muito se tem falado sobre a questão referente à obrigação dos Sete Anos, onde muitos por ai se gabam pelo fato de já terem completado ou não seus Sete Anos de Santo. E que podem assumir seu papel de SACERDOTE dentro da RELIGIOSIDADE. Mas eu mesmo sou o primeiro a perguntar: Serão de fato, todos chamados ao SACERDÓCIO? Como sou possuidor desta dúvida nada melhor que membro da nação ketu, e obediente aos ensinamentos vindo da CASA DE OXUMARÊ, nada melhor que compartilhar o que de fato aprendemos e que muitas vezes não estamos vendo se por em prática. 

Na última década houve um exacerbado aumento de Sacerdotes no Candomblé, sobretudo, aqueles que se tornaram Ìyálòrìsàs/Babalòrìsàs, imediatamente após terem concluído sua obrigação de sete anos. Mas será que somente a obrigação de sete anos outorga a um iniciado o direito ao sacerdócio? A resposta é não, vejamos por que. 

Criou-se nos últimos tempos, o indevido paradigma de que ao completar a obrigação de sete anos, o iniciado poderá instaurar o exercício do sacerdócio. Fato é que o sacerdote não nasce quando do término da sua obrigação de sete anos, mas muito antes, quando do seu nascimento. 

Na rica e bela cultura dos Òrìsàs, acreditamos que trazemos para o Aye (terra), a missão de nossas vidas acordada ainda no Orùn (céu). Em linhas gerais, isso quer dizer que a pessoa traz a missão de se tornar um sacerdote já no seu nascimento, isso está cravado irreversivelmente no seu destino, eles são os Omo Bibi (os bem nascidos)

Dessa forma, as pessoas que são “consagradas sacerdotes”, somente por terem completado o ciclo de sete anos, mas que não traz impresso no seu destino essa missão, poderá causar sério prejuízo a si mesmo e, principalmente aos seus seguidores. 

Um Sacerdote de Òrìsà, além de obviamente zelar pela Divindade, zela pelos filhos dessas Divindades, ou seja, o sacerdote cuida de pessoas. É muito importante destacar esse ponto: “O Sacerdote cuida de Òrìsàs, de Pessoas. Ele cuida de Cabeças”. Nesse sentido, vale salientar que a obrigação de sete anos é um passo muito importante na vida de qualquer Omo Òrìsà e condição sine qua non para um futuro sacerdote, mas não é a obrigação de sete anos que tornará um Omo Òrìsà em sacerdote. Isso deve ser claro a todos. 

Mas se não é a obrigação de sete anos que outorga o sacerdócio a um iniciado o que é então? Como dito acima, isso está impresso na memória ancestral daquele indivíduo, ele traz consigo essa missão do Orùn, que será revelada por meio do oráculo ou por voz pessoal do Òrìsà. Em uma primeira leitura, isso pode parecer utópico, no entanto, vamos lembrar a consagração sacerdotal de alguns dos mais importantes nomes do Candomblé. 

A reverenciada Ìyálòrìsà do Opo Afonjá, Mãe Senhora de Òsun, recebera a navalha que fora de sua avó Ìyá Oba Tosí, ainda na sua iniciação, sendo que sua Ìyálòrìsà Mãe Aninha, anteviu que ela seria uma sacerdotisa. A querida Ìyálòrìsà do Gantois, Mãe Menininha, foi consagrada Ìyálòrìsà pelos Deuses, que a escolheram e a sentaram no trono do Ile Iya Omi Ase Iyamase, sem a interferência humana. Na nossa casa, o Terreiro de Òsùmàrè, nosso amado Pai Pecê, foi indicado como futuro Babalòrìsà logo no seu nascimento, sendo carregado no barracão pelo Òrìsà Ògún de sua Avó, a inesquecível Mãe Simplícia. 

Não queremos em momento algum, dizer que a consagração dos sacerdotes deve ocorrer nos parâmetros mencionados, mas queremos sim dizer que é necessária uma consulta muito acurada ao jogo de búzios, questionando aos Òrìsàs se aquela pessoa realmente deverá ser consagrada sacerdote. É preciso saber se aquela pessoa realmente foi escolhida pelos Òrìsàs para ser um Babalòrìsà ou Ìyalòrìsà, isso é algo muito sério. 

Aqui em Salvador, por exemplo, há muitos Egbon (Omo Òrìsà com suas obrigações de 7 anos completadas, mas não consagrados sacerdotes). 

Esses Egbon, antiguíssimos e de conhecimento requintado da Religião dos Òrìsàs não se tornaram Babalòrìsàs/Ìyálòrìsàs por um único motivo, a saber: Não carregam nos seus destinos essa missão. Esses antigos são felizes por serem Egbon, são felizes por zelar pelos Òrìsàs na casa onde foram iniciados. São felizes por serem consultados pelos mais novos, sobre as histórias do povo antigo. São felizes por dizer: “Eu sou egbon da Casa A ou B”. 

Quando questionados por muitos a razão de não serem Babalòrìsàs/Ìyálòrìsàs, eles imediatamente respondem: “Oh meu filho, eu não nasci com essa missão não, minha missão é ajudar a casa onde eu me iniciei”. Alguns inconformados reiteram: “Mas com tanto saber, você tinha que ser sacerdote”. Esses antigos Egbon, por sua vez, no elevado grau de sabedoria, acumulada ao longo de anos, finalizam a conversa dizendo: “Oh meu filho, saber é o de menos, é preciso nascer para ser”

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!! Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

COLETÂNEA OXUM, NO CAMINHO INICIÁTICO - OS CAÇADORES DE CABEÇA


Os Caçadores de Cabeças 

Hoje, na incessante busca pelo falso prestígio, muitas pessoas ditas Sacerdotes, não se furtam em “caçar cabeças” para poder ostentar uma grandiosa roda de Iyawos/Egbon/Ògáns, nem que para isso, tenham que ignorar a Ética e Moral que deveriam existir entre casas e, sobretudo, entre Sacerdotes. 

Mas muitos podem dizer: Um Sacerdote “caçar a cabeça” de alguém? Não são os filhos “rebeldes” que buscam outro terreiro? 

Em verdade, as duas situações ocorrem, cremos que a primeira com maior incidência. Na primeira postagem da série, falamos da ética e solidariedade que deve existir quando um confrade religioso falece, no entanto, é nesse momento que muitos falsos sacerdotes se aproveitam para “caçar a cabeça” de um Omo Òrìsà. Infelizmente, há “sacerdotes” que mesmo no velório, iniciam as investidas com os filhos de santo do falecido. Por vezes, com uma conversa aparentemente confortadora, mas que deixa aquela pessoa em dúvidas. Vejamos: 

“olha, a sua Ìyálòrìsà faleceu, mas pode contar comigo, afinal será que a pessoa que assumir tem o conhecimento necessário?”

“meu filho, eu sei da sua dor, mas você precisa logo lavar a sua cabeça, esse é o meu cartão, não evite em me procurar”

“eu lamento a sua perda, fico mais triste ainda porque acho que sua casa não terá continuidade, mas a minha casa está de portas abertas para recebê-lo”

Talvez para muitos, isso pode parecer surreal, no entanto, ocorre com freqüência, mostrando que muitos deixam a ética de lado, para angariar novos rebentos. 

Algo que também fere de forma contundente as convenções éticas do Candomblé está relacionado ao oráculo tendencioso e desrespeitoso. Os falsos sacerdotes, para conseguir uma nova cabeça, geralmente proferem em seu jogo: 

“Olha, você não é do Òrìsà que você foi iniciado, mas não se preocupe porque eu vou colocar o santo correto na sua cabeça e você, a partir de agora, será desse santo. A pessoa que te iniciou não sabe nada de Candomblé, ele é maluco, ainda bem que você me encontrou”

Nesses casos, nobres leitores, onde está a Ética Moral e Religiosa desse dito “Sacerdote/Sacerdotisa”

Não podemos tapar o sol com a peneira e dar costas às feituras erradas e mesmo indevidas que existem. Incorretas quando de fato uma pessoa é iniciada para uma Divindade que não seja a sua e, indevida, quando simplesmente uma pessoa foi iniciada sem ser esse o seu Destino, sendo que há pessoas que não devem ser iniciadas. 

Aqui em Salvador, há um respeito muito grande entre os Terreiros. Muitos filhos de santo de uma casa nem tentam buscar o jogo de outro terreiro, pois sabem que, na maioria das vezes terão como resposta: 

“Você não é da casa de fulano? Olha, ele é meu amigo, gosto muito do seu Pai, vá procurar ele, que certamente ele vai te ajudar”. Isso se chama Ética. 

Mas há situações que o Sacerdote sabe que aquela pessoa, verdadeiramente “caiu em mãos erradas” e abre o jogo. Nesses casos, o jogo de búzios revelando que aquela pessoa já iniciada é regida por outra Divindade, o Sacerdote deve sim ser verdadeiro com a pessoa. Deve explicar que a Divindade para qual ele fora iniciado, não é em verdade o regente do seu Orì. No entanto, deve elucidar que, santo feito não se muda. Deve esclarecer que há obrigações que podem ser realizadas, de modo que o verdadeiro regente do Orì da pessoa seja cultuado, mas que o Òrìsà para o qual ele foi iniciado não pode ser esquecido e, principalmente, deve ter a convicção plena de suas afirmações. 

Entretanto, o que mais vemos é o oposto. É justamente um Sacerdote ignorar tudo o que foi feito em uma pessoa para fazer valer a sua verdade/vontade, mostrando que tudo pode e que está acima de tudo e de todos, mesmo dos nossos Deuses, os Òrìsàs. 

Mas aqui, cabe uma reflexão especial: Onde vai parar a Divindade que ao longo de anos foi cultuada na cabeça daquela pessoa? A pessoa sempre foi incorporada por uma Divindade e, de uma hora para outra, é incorporada por outra Divindade e a Divindade do passado é nada mais que passado? 

Na terceira postagem da série, vamos falar sobre isso e sobre os Òrìsàs da Moda! Pessoas que esquecem a Divindade que cultuaram ao longo da Vida, para ser do “Òrìsà da moda”

Que nosso Pai Òsùmàrè Àráká cubra de bênçãos cada pessoa que, verdadeiramente, está voltada para a religião dos Òrìsàs. 

Ilé Òsùmàrè Arákà Asè Ògòdó

COLETÂNEA OXUM, NOS CAMINHOS INICIÁTICOS - OS ABIASÉS


"Os Àbiasé's e Seus Mistérios!" 

Olá, Bom dia! Eu sou Kiil ty òsún, e sou uns dos administradores da página Candomblé Brasil. 

Hoje venho lhes dizer um pouco mais sobre os àbiasé's, e eu sou àbiasé de acordo com os meus conhecimentos: Àbiasé é um termo usado pelos Yorubás para designar seres que já nascem com axé: Àbi= Nascer; Àsé= Energia mágica dos orixás (axé), ou seja são nada mais, nada menos que seres que já nascem com o Asé do Orisá plantado em seus Òrís (cabeças). 

*Mas como eles nascem com o axé dos orixás plantados neles, sem iniciar o orixá? 

Simples! Suponhamos que uma mãe recolha para dar obrigação (iniciar-se), e sem ela saber esteja grávida, de um dia , dois meses tanto faz, e ela se inicia no Orixá, e depois de sua iniciação ou até mesmo durante ela, descubra que esta gravida de um feto, seja ele masculino, ou feminino, este será àbiasé de acordo com as leis do orixá! 

Só que só serão Àbiasé aquelas, que a mãe não sabia estar grávida, por tanto não se existe Àbiasé de propósito, ou "combinado"

* Eles terão uma vida de "Orixá" normal? 

Sim, eles serão Ìyáwós, Egbomes, Lessíorisás, Bábá/Ìyálorisás. Terão sim que dar obrigação de 1 ano, 3 anos, 5 anos, 7 anos, 14 anos e 21 anos!. Só mudando que nunca, em nenhuma hipótese se poderá raspar o àbisé. 

* O àbisé terá vida longa, ou morrerá cedo? 

Os àbiasé's são muito confundidos com os àbikús, que são outra qualidade de seres que nascem dentro do culto. Sim o àbiasé terá vida normalmente! 

Bábá Ègbé Kiil ty Òsún

COLETÂNEA OXUM, NOS PROCESSOS INICIÁTICOS - ABIKU, POR PIERRE VERGER

Pierre Verger, através da sua pesquisa e coragem, cujo legado será eterno.


Se uma mulher, em país yorubá dá à luz uma série de crianças natimortas ou mortas em baixa idade, a tradição reza que não se trata da vinda ao mundo de várias crianças diferentes, mas de diversas aparições do mesmo ser (para eles, maléfico) chamado àbíkú (nascer-morrer) que se julga vir ao mundo por um breve momento, para voltar ao país dos mortos, órun (o céu), várias vezes. 

Ele passa assim seu tempo a ir e voltar do céu para o mundo sem jamais permanecer aqui por muito tempo, para grande desespero de seus pais, desejos de ter os filhos vivos. Essa crença se encontra entre os Akan, onde a mãe é chamada awomawu (ela bota os filhos no mundo para a morte). Os ibo chamam os abikú de ogbanje, os hauças de danwabi e os fanti, kossamah. 

Encontramos informações a respeito dos abikú em oito itans (histórias) de ifá, sistema de adivinhação dos yorubá, classificados nos 256 odu (sinais de ifá). Essas histórias mostram que os abikú formam sociedades no egbá órun (céu), presididas por iyàjansà (a mãe-se-bate-e-corre) para os meninos é olókó (chefe da reunião) para as meninas, mas é Aláwaiyé (Rei de Awaiyé) que as levou ao mundo pela 1ª vez na sua cidade de Awayié. Lá se encontra a floresta sagrada dos abikú, aonde os pais de abikú vão fazer oferendas para que eles fiquem no mundo. 

Quando eles vem do céu para a terra, os abikú passam os limites do céu diante do guardião da porta, oníbodé órun , seus companheiros vão com ele até o local onde eles se dizem até logo. Os que partem declaram o tempo que vão ficar no mundo e o que farão. Se prometem a seus companheiros que não ficarão ausentes, essas, crianças apesar de todo os esforços de seus pais, retornarão, para encontrar seus amigos no céu. 

Os abikú podem ficar no mundo por períodos mais ou menos longos. Um abikú menina chamada "A-morte-os-puniu" declara diante de oníbodé órun que nada do que os seus pais façam será capaz de retê-la no mundo, nem presentes nem dinheiro, nem roupas que lhes ofereçam, nem todas as cosias que eles gostariam de fazer por ela atrairiam os seus olhares nem lhe agradariam. 

Um abikú menino, chamado ilere, diz que recusará todo alimento e todas as coisas que lhe queiram dar no mundo. Ele aceitará tudo isto no céu. 

Quando Aláwaiyé levou duzentos e oitenta abikú ao mundo pela primeira vez, cada um deles tinha declarado, ao passar a barreira do céu, o tempo que iria ficar no mundo. Um deles se propunha a voltar ao céu assim que tivesse visto sua mãe; um outro, iria esperar até o dia em que seus pais decidissem que ele casasse; um outro, que retornaria ao céu, quando seus pais concebessem um novo filho, um ainda não esperaria mais do que o dia em que começasse a andar. 

Outros prometem à iyàjanjasà, que está chefiando a sua sociedade no céu, respectivamente, ficar no mundo sete dias, ou até o momento em que começasse a andar ou quando ele começasse a se arrastar pelo chão, ou quando começasse a ter dentes ou ficar em pé. 

Nossas histórias de ifá nos dizem que oferendas feitas com conhecimento de causa são capazes de reter no mundo esses abikú e de lhes fazer esquecer suas promessas de volta, rompendo assim o ciclo de suas idas e vindas constantes entre o céu e a terra, porque, uma vez que o tempo marcado para a volta já tenha passado, seus companheiros se arriscam a perder o poder sobre eles. 

É assim que nessas quatro histórias encontramos oferendas que comportam um tronco de bananeira acompanhado de diversas outras coisas. Um só dos casos narrados, o terceiro, explica a razão dessas oferendas: 

"Um caçador que estava à espreita, no cruzamento dos caminhos dos abikú, escutou quais eram as promessas feitas por três abikú quanto à época do seu retorno ao céu." 

"Um deles promete que deixará o mundo assim, que o fogo utilizado por sua mãe, para preparar sua papa de legumes, se apague por falta de combustível. O segundo esperará que o pano que sua mãe utilizar, para carregá-lo nas costas se rasgue. A terceira esperará, para morrer, o dia em que seus pais lhe digam que é tempo de ele se casar e ir morar com seu esposo." 

"O caçador vai visitar as três mães no momento em que elas estão dando à luz a seus filhos abikú e aconselha à primeira que não deixe se queimar inteiramente a lenha sob o pote que cozinha os legumes que ela prepara para seu filho; à segunda que não deixe se rasgar o pano que ela usar para carregar seu filho nas costas, que utilize um pano de qualidade diferente; ele recomenda, enfim à terceira, de não especificar, quando chegar a hora, qual será o dia em que sua filha deverá ir para a casa do seu marido." 

As três mães vão, então consultar a sorte, ifá, que lhes recomenda que façam respectivamente as oferendas de um tronco de bananeira, de uma cabra e de um galo, impedindo, por meio deste subterfúgio, que os três abikú possam manter seu compromisso. Porque, se a primeira instala um tronco de bananeira no fogo, destinado a cozinhar a papa do seu filho, antes que ele se apague, o tronco de bananeira, cheio de seiva e esponjoso, não pode queimar, e o abikú, vendo uma acha de lenha não consumido pelo fogo, diz que o momento da sua partida ainda não é chegado. 

A pele de cabra oferecida pela Segunda mãe serve para reforçar o pano que ela usa para levar seu filho nas costas; a criança abikú não vai achar nunca que esse pano se rasgou e não vai poder manter sua promessa. Não se sabe bem o porque do oferecimento de um galo, mas a história conta que quando chegou a hora de dizer à filha já uma moça, que ela deveria ir para casa do seu marido, os pais não lhe disseram nada e a enviaram bruscamente para a casa dele. 

Nossos três abikú não podem mais manter a promessa que fizeram, porque as circunstâncias que devem anunciar sua partida não se realizaram tais como eles tinham previsto na sua declaração diante de oníbodé órun. Estes três abikú não vão mais morrer. Eles seguiram um outro caminho. 

A história ilustra bem o mecanismo das oferendas e de sua função. Não é o seu lado anedolíco (de lenda) que nos interessa aqui, mas a tentativa de demonstração de que em país yorubá, a sorte (destino) pode ser modificada, numa certa medida, quando certos segredos são conhecidos. Entre as oferendas que os retêm aqui, na terra, figuram, em primeiro plano, as plantas litúrgicas. Cinco delas são citadas nestas histórias: 

- Abíríkolo (crotalaria lachnophera, papilolionacaae) 

- Agídímagbayin (não identificada) 

- Ídí (terminalia ivorensis, combretacae) 

- Ijá àgborin (não identificada) 

- Lara pupa (ricinus communis - mamona vermelha) 

Ainda mais duas plantas são frequentemente utilizadas para reter os abikú e que não figuram nessas histórias: 

- Olobutoje ( jatropha curcas, euphorbiaceae) 

- Òpá eméré ( waltheria americana, sterculiaceae). 

A oferta dessas folhas constitui uma espécie de mensagem e é acompanhada por ofó (encantamentos). 

Em país yorubá, os pais, para proteger seus filhos abikú e tentar retê-los no mundo, podem se dedicar a certas práticas, tais como fazer pequenas incisões nas juntas da criança e aí esfregar atin (um pó preto feito com ossum, favas e folhas litúrgicas para esse fim) ou ainda ligar à cintura da criança um ondè, talismã feito desse mesmo pó negro, contido num saquinho de couro. 

A ação protetora buscada nas folhas, expressa nas fórmulas de encantamento, é introduzida no corpo da criança por pequenas incisões e fricções, e a parte do pó preto, contida no saquinho do ondé, representa uma mensagem não verbal, uma espécie de apoio material e permanente da mensagem dirigida pelos elementos protetores contra os elementos hostis, sendo essa forma de expressão menos efêmera do que a palavra. 

Em uma outra história, são feitas alusões aos xaorôs, anéis providos de guizos, usados nos tornozelos pelas crianças abikú , para afastar os companheiros que tentam vir buscá-los no mundo e lembrar-lhes suas promessas. De fato seus companheiros não aceitam assim tão facilmente a falta de palavra dos abikú, retidos no mundo pelas oferendas, encantamentos e talismãs preparados pelos pais, de acordo com o conselho dos babalaôs. Nem sempre essas precauções e oferendas são suficientes para reter as crianças abikú sobre a terra. Iyájanjàsa é muitas vezes mais forte. Ela não deixa agir o que as pessoas fazem para os reter e porá tudo a perder o que as pessoas tiverem preparado. Contra os abikú não há remédios. 

Yiájanjàsá os atrairá à força para o céu. Os corpos dos abikú que morrem assim, são frequentemente mutilados. A fim de que, dizem, eles percam seus atrativos e seus companheiros no céu não queiram brincar com eles sobretudo para que o espírito do abikú, maltratado deste modo, não deseje mais vir ao mundo. 

Essas criança abikú recebem no seu nascimento, nomes particulares. Alguns desses nomes são acompanhados de saudações tradicionais. Eles podem ser classificados: quer nomes que estabeleçam sua condição de abikú; quer nomes que lhes aconselham ou lhe suplicam que permaneçam no mundo; quer em indicações de que as condições para que o abikú volte não são favoráveis; quer em promessas de bom tratamento, caso eles fiquem no mundo. A frequência com que se encontra, em país yorubá, esses nomes em adultos ou velhinhos que gozam de boa saúde, mostra que muitos abikú ficam no mundo graças, pensam as almas piedosas, a todas essas precauções, à ação de Òrúnmìlà, e à intervenção dos babalaôs. 

ALGUNS NOMES DADOS AOS ABIKÚ 

Aiyédùn - a vida é doce 

Aiyélagbe - Nós ficamos no mundo 

Akúji - O que está morto, desperta 

Bánjókó - Senta-se comigo 

Dúrójaiyé - Fica para gozar a vida 

Dúróoríìke - Fica, tu serás mimada 

Èbèlokú - Suplica para que fique 

Ilètán - A terra acabou (não há mais terra para enterra-lo) 

Kòjékú - Não consinta em morrer 

Kòkúmó - não morra mais 

Kúmápáyìí - A morte não leva este daqui 

Omotúndé - A criança voltou 

Tìjúikú - Envergonhado da morte (não deixa a morte te matar)

PALAVRAS DE PEDRO MANUEL T'OGUM

Motumbá meus (minhas) amados (as) irmãos (ãs) do BLOG OLHOS DE OXALÁ. Bom dia!


Motivado pelas postagens deste final de semana, onde busquei oferecer a todos juntamente com nossa EQUIPE OLHOS DE OXALÁ, fatos e aprendizados sobre a caminhada de OXUM, em todo o processo de evolução iniciática na realidade do CANDOMBLÉ. Mas deixo claro que vamos sim ainda abordar sobre esta mesma realidade também atingindo a todos que praticam de forma real, concreta e verdadeira a nossa querida UMBANDA SAGRADA.

Mas tudo ao seu devido tempo e espaço. 

Quando a elaboração de um texto esta em sintonia entre os irmãos, não se precisa muito para que tudo e todos conspire numa mesma direção. Já que estamos falando de toda a caminhada digamos assim do processo de ABIÃN, passando a ser YAWÔ. Atingindo, após os anos corretos, o estágio de EBOMI (EGBOMI), em toda a caminhada espíritual do CANDOMBLÉ.

E são realidades que mesmo sendo de ORIXÁS diferentes, OXUM, se faz presente na vida de todos que passam por estes passos. Pois todos passam pelo RONKÓ (QUARTO DE SANTO) em sua iniciação. Como todos passam novamente por ele, também em suas OBRIGAÇÕES. E bem sabemos que a "Senhora do Ronkó" é sem dúvida alguma, OXUM, pois ali é representado o seu útero.

Mas tudo que se faz deve ser levado em conta a caminhada. Pois a linha de pensamento e´de fato a mesma e como vimos pelas palavras de BABA EDSON DE OXUM, que nos presenteou com sua postagem que aborda os temas da diferença entre ABIKÚ E ABIASÉS, duas realidades que hoje em dia. Me desculpe de fato a todos virou moda entre os membros da nossa RELIGIOSIDADE.

Desta forma, como este BLOG foi criado para levar até você, o que for de fato real e concreto sobre nossa fé. Cada postagem serve justamente para ficarmos de olhos bem abertos, e ficarmos atentos para não sermos enganados com certas colocações que nos apresentam e que por inocência ou falta de conhecimento venham a ser tidas como profundas conhecedoras de fundamentos e que no bem da verdade. Só para nos enganar.

Afinal, bem temos de saber, como diz o velho ditado: "Nem tudo que brilha é ouro". E isto, é de fato verdade. Mas nunca deixamos de dizer, conscientizar e alertar. Que tudo que postamos aqui, é de forma básica da básica. Pois bem sabemos que os melhores e únicos ensinos e aprofundamentos sobre a RELIGIOSIDADE, deve vir de nossos BABALORIXÁS E YALORIXÁS.

Agradeço de coração a todos que tem acompanhado nosso BLOG OLHOS DE OXALÁ, como pedi a postagem de nossas mais novas LEMBRANCINHAS DE ORIXÁS, pois muitos podem estar se preparando para se INICIAR outros ainda para dar suas OBRIGAÇÕES. E sempre temos ainda as devidas FESTAS DOS ORIXÁS no percorrer de todo o ano.

Então não deixe de participar, visitar, acompanhar pelo nosso BLOG, pois ainda temos muito a lhes oferecer. Hoje estaremos abordando como disse acima, a continuidade sobre ABIASÉS E ABIKÚS, mas logo adentraremos na questão EGBOMIS. Partindo então para as CABOCLAS DE OXUM. Um assunto muito interessante de se saber também.

Um grande abraço a todos. Que Ogum e Oxaguiãn, abençõem a todos nesta nova semana que se inicia.