Temos visto algumas realidades dentro do FACEBOOK, que nos motivaram mais uma vez tocar neste assunto. A presença dos Abiãns, numa casa de santo. Pois é engraçado que para muitos o CANDOMBLÉ se inicia após o noviço ter passado pelo processo de iniciação (feitura), mas a realidade não é bem assim.
Concordamos em gênero, número e grau que para alguém chegar a ser um EGBOMI, este chegar ao cargo de BABALORIXÁ, ou no caso feminino IALORIXÁ, se isto lhe for permitido por seu ORIXÁ em chegar a esta função dentro da RELIGIÃO. Ninguém chega a nada se não passar pela realidade de Yawô. Mas nenhum Yawô nasce ou acontece, se na sua casa não houver os ABIÃNS.
Ou seja, sempre teremos esta realidade de ABIÃN, que passará pra YAWÔ, e de YAWÔ passa-se a EGBOMI e de EGBOMI, aos altos cargos da RELIGIOSIDADE. Mas... sem Abiãn, não tem Yawô, não tem Egbomi e corre o risco de se chegar ao dia de não ter mais ninguém para dar seguimento a um ILÊ ASÉ.
Para se entender melhor vamos ver que:
Abiã ou Abian - É toda pessoa que entra para a religião do Candomblé, também chamado de filho de santo, após ter passado pelo ritual de lavagem de Fio de contas e o Ebori. Poderá ser iniciada ou não, vai depender do Orixá pedir a iniciação. Só deixará de ser abian quando for iniciada, sendo então um yawô.
O abian não participa dos preceitos internos, só participa das festas públicas, ainda não tem um compromisso com o Ilê (casa), nesse período terá a oportunidade de conhecer as pessoas e o funcionamento da casa, se tiver alguma coisa que não goste, poderá sair e procurar outra casa que seja do seu agrado ou de sua confiança.
Ao abian é permitido ajudar em quase todos serviços da casa, sempre orientado por um mais velho que diga o que pode ou não fazer. Essa fase é muito importante para se aprender vendo e ouvindo, as perguntas não são muito bem vindas, observar e saber ouvir é a melhor maneira de aprender, quando um mais velho se dispôr a falar e contar, abaixe-se e preste atenção, não interrompa, escute e grave.
Os mais velhos já estão cansados e não têm muita paciência para ficar respondendo as milhões de perguntas que o abian gostaria de fazer, portanto seja paciente, não seja muito apressado, tem a vida inteira para aprender, essa é uma das normas do candomblé.
Dando continuidade e jus à categoria criada, nós temos o imenso orgulho de publicar no espaço dos leitores as palavras de puro coração de uma abian que, se seguir por estes caminhos que ela vem seguindo, será uma yawô exemplar e uma religiosa bem necessária para o futuro da nossa religião.
"Eu sou uma abian e sou uma abian feliz.
Estou começando a frequentar a casa de santo onde irei me inciar de uns meses pra cá e devo entrar pra fazer santo entre janeiro e fevereiro (aliás, Fernando e Nelson já sabem que foram “intimados”, assim como o resto do povo do RJ, para a saída de Logun-ede).
Mas ó, eu me sinto tão feliz, tão contente por ser abian… Pelo menos na casa que frequento, uma casa de Ketu, eu sou quase paparicada (risos): tem sempre alguém ao meu lado me ajudando, me ensinando a fazer alguma coisa, me perguntando se está tudo bem comigo, se estou precisando de alguma coisa… Se assisto a um ebori, ou algo sem tanto fundamento, sempre um egbomi fica ao meu lado para me explicar o que está acontecendo, me dizendo o porquê, o motivo…
Em alguns momentos, sinto medo de fazer santo: ficar careca, ficar 3 meses de kele, não abraçar meu marido, sentar no baixo, dormir na esteira, não me depilar, usar leite de rosas no lugar do desodorante, ficar sem os meus creminhos anti-idade diversos (povo de Logun-ede tem um medo tão grande de envelhecer… ), andar na rua com o kele escondidinho, enroladinho num pano branco, ou com uma echarpe branquinha o cobrindo… Nossa, chega a me dar PAVOR! Além disso, sou casada e o pior de tudo: meu marido não gosta de Candomblé, não entende nada, mas respeita profundamente a minha decisão.
Mas são nessas horas que eu penso em Logun-ede. Penso no amor por Ele, penso na relação maravilhosa que estou construindo com o meu Orixá e coloco algumas coisas na balança. Sabe, Orixá nenhum vai me matar, me aleijar ou me “cobrar” de forma alguma se eu não fizer santo.
Mas eu sei que, em algum momento antes de nascer, lá no Órun (céu), eu firmei um pacto: eu disse a Logun-ede que eu queria atravessar as dificuldades da minha vida de mãos dadas com Ele, para que Ele me carregasse no colo quando eu não tivesse forças para andar com as minhas pernas. E nesse momento, minhas próprias idéias se clareiam, a mente “desanuvia” e eu vejo que não há sacrifício nenhum em ser uma yawo, em ter minha cabeça raspada e cumprir 3 meses de kele e 1 ano de resguardo para alguns preceitos.
Nesse momento eu lembro que as coisas das quais eu me resguardo durante o tempo de preceito, são energias que eu deixo de absorver. Sabe, tudo no mundo é troca de energias, e, quando eu me preservo de algumas coisas, quando eu me resguardo de algumas coisas, eu evito absorver uma energia menos positiva que a do meu Orixá, ou até mesmo uma energia realmente negativa, e acumulo dentro de mim, apenas a energia linda, positiva e fantástica que o meu Pai compartilhará comigo a partir do momento da iniciação.
Também conversei de forma muito longa e profunda com o meu marido, e disse para ele que a iniciação e o resguardo que são pedidos são apenas para trazer coisas boas para a minha vida e, consequentemente, se eu estiver melhor, se a minha energia estiver melhor, a nossa vida em família, como um todo, também estará melhor.
E Logun-ede, em Sua sabedoria, também arrumou diversas maneiras de mostrar ao meu marido que Ele só quer o melhor para mim e, consequentemente, o melhor para mim acaba sendo o melhor para nós dois.
Ser abian é fantástico para mim: estou aprendendo, estou fazendo um curso de Religiosidade Africana, que é pra me iniciar numa religião tendo total e completa certeza do que é Candomblé e do que eu quero.
Estou curtindo a fase de “namoro” com o meu Orixá: não me interessa a qualidade dele, apenas que Ele é uma energia única, fantástica, soberana na minha vida. Estou O conhecendo. E estou sofrendo uma ansiedade gostosa, louca para me iniciar, tendo certeza que, não importa o caminho: o que importa é que a colheita dos frutos junto ao meu Pai será linda, será farta, será de enorme retorno para mim.
Acredito que ser abian é o momento de perguntar TUDO, de falar, de me informar, de ouvir até mesmo do Nelson um “nem sob tortura”, quanto às minhas perguntas que serão respondidas após a iniciação.
Ser abian, pelo menos na casa que eu frequento, é ser um feto, se preparando para nascer, se preparando para BI (verbo nascer em Ioruba), e para nascer, se precisa aprender a viver depois disso.
Se você não está à vontade, converse com o seu Babalorixá: ele é seu zelador, zelador do seu Orixá. Diga a ele que se sente de lado, que isso a magoa: se ele não puder resolver, você terá feito a sua parte. Não importam cargos nesse momento: o que importa é uma conversa franca e honesta sobre os seus sentimentos.
A ausência dela pode causar um arrependimento depois da iniciação, por não ser tratada da maneira que se esperava e isso pode gerar uma frustração até mesmo com o próprio Orixá / Vodum / Nkise, mesmo quando sabemos que o nosso ancestral não tem nada a ver com os erros dos que nos cercam.
Ser abian para mim é o tempo de conhecer a religião e me apaixonar pelo meu Orixá.
Eu amo esse espaço enormemente e sei que vocês sabem disso. Obrigada por manterem o blog funcionando!! Vocês são incríveis!!
Que Logun-ede abençõe a todos nós!
Beijos no coração!! Aline Leonardo."
Desta, forma percebemos então que sem os Abiãns, as casas de Santo na verdade, não são nada. Indiferente da quantidade de tempo em que uma pessoa esteja neste estado. Deve-se fazer somente o que o ORIXÁ pede e na hora que ele quer.
Já esta na hora de repensar-se alguns procedimentos de iniciar-se pessoas em quantidade, como que baciada, para se ostentar CASAS CHEIAS, como se fossem as melhores do mundo ou até as mais perfeitas.
Deve-se pensar e verificar que antes a QUALIDADE do Yawô, que vai se iniciar, isto se de fato ele precisar. Do que muita QUANTIDADE, para somente mostrar volume.