"Não cometerás falso testemunho "- Bíblia, 9o Mandamento.
"A verdade transforma as palavras em facas" - EURÍPEDES - Iphigênia.
"Não importam os fatos e sim as versões" - Getúlio Vargas.
É difícil dizer quem consegue viver sem ter faltado com a verdade, pelo menos uma vez na vida. Pode ser até por erro. Por exemplo, quem descreve alguma coisa para alguém está passando algo que viu ou presenciou. Mas está passando uma visão própria. Tente interrogar uma pessoa logo após uma experiência dramática. Tente a mesma coisa, horas depois. Ou algum tempo, uns meses. Trata-se de outra visão da mesma situação.
Falso testemunho ou engano? Se colocarmos o assunto na boca de um advogado criminalista (o tipo de advogado com menor duração de vida aqui no Brasil) ou qualquer pessoa bastante escolada na retórica, o que para alguns passa como mentira adquire outro significado. Na Bíblia, a mentira é um dos dez pecados capitais (vale lembrar que não existe uma gradação de qual pecado é o maior, matar alguém ou invejar a mulher do próximo é tão pecado quanto mentir, aos olhos de Deus).
Clinton cometeu o perjúrio ao dizer que manteve relações incompletas com Mônica Lewinski? Ele não podia negar o exame de DNA no vestido da estagiária (que cuspiu do lado esquerdo, parece que fez questão de guardar o vestido).
Isso leva a outra questão: Será possível pegar um mentiroso e demonstrar que ele está mentindo? Depende muito.
A mentira pode ser descrita como uma verdade que deixou de acontecer. Em se tratando de falso testemunho, a falha está no fato de que o sistema de comunicação é algo imperfeito. Por exemplo, nós brasileiros falamos a língua portuguesa ou a língua brasileira? Depende de quem esteja perguntando. Será que dois brasileiros falam a mesma língua? Alguém conhece aquela piada do engenheiro e caipira numa aposta de rinha de galo?
Vou lembrar:
O sujeito foi com toda aquela panca fazer uma obra numa cidadezinha do interior. De acordo com o capataz da obra, não havia nenhuma diversão no local, exceto briga de galo (coisa proibida, inclusive). E o cara foi lá, ver como é que era a coisa. Chegou e viu um monte de gente apostando dinheiro. Perguntou para o capataz, qual galo que era o bom:
- O bom é aquele galo amarelo, ali.
O engenheiro apostou firme no tal galo. Que perdeu, levou uma surra bonita do oponente. O engenheiro foi reclamar com o capataz:
- Você não me disse que aquele galo é que era o bom?
- E num tava certo? O ruinzão é o outro, você viu como que bateu sem dó? |
Pois é, no caso acima, não houve mentira, houve uma falha de comunicação. Claro que se pode também falar emDesinformação, que é a possibilidade de se apresentar a verdade de tal forma que pareça mentira. A Retórica, tão querida do pessoal que faz advocacia, já é outro esquema: consiste em aumentar ou diminuir para atingir o efeito de influenciar o resultado de uma discussão.
A comunicação é um ato social. A mentira, por mais imoral ou danosa que possa parecer, é um ato social. Vide a novelaRoque Santeiro, uma novela de enorme sucesso baseada nessa questão: uma cidade havia se desenvolvido em torno do mito de um herói. Esse mito era mentira, mas era justo acabar com o desenvolvimento da cidade só para esclarecer a verdade? A Rede Globo (e mais um montão de gente) acabou por votar pela manutenção do mito. Ariano Suassuna, em entrevista com Jô Soares (sexta, 23/03/01), falou sobre o personagem Chicó do "Auto da Compadecida".
Foi baseado numa pessoa (que já faleceu) que era o maior mentiroso da paróquia. Em determinada ocasião, estava esse "recontando" um evento e um dos que tinham participado, estado lá na ocasião, teve a audácia de falar que o Chicó não estava falando a verdade. Ao que este respondeu, contrariado e constrangido:
- Tá certo. O senhor é testemunha, estava lá, eu concordo. Mas todo mundo sabe quem sou eu. Está todo mundo reunido para me ver contar um caso. Vocês todos aqui, o que vocês preferem? Aquilo que estou contando ou a verdade desse besta aqui?
Claro que alguns podem colocar o fato de que existe alguma diferença cultural entre o Suassuna comentou (que o Chicó teria falado em determinada ocasião) durante o "Talk-Show" do Jô e o que se pratica na maioria dos lugares. Porém, com relação a contar histórias, o cinema faz isso, o tempo todo. Só que chama esse ato de "linguagem cinematográfica". É preciso alterar a história para que possa ser filmada (o que são outros quinhentos, mas rendeu um belo de um processo para os realizadores do filme "O que é isso, companheiro").
Há então a questão daquilo em que a pessoa quer acreditar. É preciso ler nas entrelinhas. O problema da verdade é o "business" de lidar com o que ela acarreta. Como naquela piada do português:
O detetive chega para o português, depois de passar dias e dias disfarçado, seguindo a Maria, suspeita de estar traindo o Manuel:
- Segui ela ontem o Motel "Vamunessaqueébão". Me disfarcei de empregado, vi os dois sorridentes entrando na suíte presidencial, que tem cama redonda, espelhos e outros equipamentos. Aí, quando cheguei perto da fechadura, olhei pelo buraco, sua esposa estava tirando a roupa e aí..
- Fala, gajo, o que aconteceu?
- O cara tirou a cueca e pendurou na maçaneta, não vi mais nada.
- Ora, raios, esta dúvida é que me mata! |
Isso é uma piada, eu sei. Mas e o caso dos médicos, por exemplo? O que que interessa para a família ouvir, quando o parente está a beira da morte (supondo-se que o parente seja mesmo um ente querido)?
Até um tempo atrás, um amigo meu foi fazer uma entrevista num hospital e pediu para o médico residente para ver alguns desenganados (doentes sem chance de recuperação). A resposta que recebeu é que todos tinham chance de recuperação, não havia essa coisa de desenganado. Uma auxiliar de instrumentadora (sei lá o nome do cargo, a pessoa que entrega os bisturis para o cirurgião) me contou que o apelido da UTI (entre os médicos e enfermeiros) é "ante-câmara do inferno". De acordo com ela, a internação na UTI, na maioria dos casos, é só uma forma que o hospital usa para arrancar um dinheiro absurdo das famílias que ainda acreditam numa última chance. Vai saber.. milagres acontecem. Será que a pessoa que recebe a notícia de que vai morrer não desiste também de lutar até o fim?
As várias formas de se mentir para alguém:
Existem livros sobre o assunto. Mas de acordo com um tratado muito bom, "Telling Lies - Clues to Deceit ", alguns (dos muitos exemplos) podem ser alinhados:
Ocultar a verdadeBem mais fácil. A pessoa não tem que se preocupar em memorizar nada ou inventar, já que nada aconteceu.
Exemplo:
(situação baseada em fatos reais que presenciei, numa república estudantil.. ):
- Mano, você está viu as minhas cuecas?
- Olha, não me venha com essa, você achou alguma entre as minhas coisas? Então pare de me acusar.
- Pô, cara, foi mal..
- Ah, tudo bem.. mas relaxa, cara..
Outros exemplos: Tentar ocultar a vitória do seu time de futebol ou falar pro seu dentista que não tem medo de injeção.
Falsificar
Falsificar implica um bom conhecimento de como as emoções funcionam. Por exemplo, mentir que já tem experiência anterior implica em:
- Esconder o medo de ser pego
- Aparentar ter trabalhado
Exemplo:
- Mano, você está usando uma das minhas cuecas.
- Você está louco, esta é minha! Você fica esquecendo as coisas na lavanderia e coloca a culpa em mim.. tenho que sair fora.
Dizer a verdade como se fosse mentira - Dizer a verdade como se fosse mentira, é coisa para ator, por que implica em fazer de modo que a pessoa duvide da verdade.
Exemplo:
- Mano, você pegou minhas cuecas?
- Peguei elas e tô usando para lustrar sapato.
Evitar a resposta - É bastante comum, quando o mentiroso é apanhado "em flagrante"
Exemplo:
- Você está usando uma das minhas cuecas?
- Eu estou ocupado agora, não está vendo? Tenho que sair correndo antes que o banco feche. |
Dicas para tentar diferenciar mentira e verdade:
Claro que uma coisa é ver a verdade vazando, outra é o mentiroso admitir. Lembrando a piada do cego e do cachorrinho:
Juca Chaves: Estava eu pela rua, de noite, quando vi um ceguinho passeando com um cão-guia, pastor alemão. De repente, o cão parou e deu uma senhora mijada no pé do dono. Que, aparentemente, não demonstrou raiva. Só enfiou a mão no bolso e tirou um biscoito. Estando eu do lado, não pude deixar de exclamar:
- Que mostra de paciência, o cachorro lhe dá um "banho" e tudo o que o senhor faz é enfiar a mão no bolso para dar-lhe um biscoito.. que generosidade..
- Estou só procurando a cabecinha dele para meter a bengala! |
Presumindo que se queira duvidar da pessoa com quem falamos, há vários métodos. Se algum curso, livro ou método lhe prometer 100% de acerto nesse assunto, está faltando com a verdade. Não existe nenhum método perfeito para pegar mentirosos. E muito menos um método perfeito para faze-los admitir que mentiram. Existe uma teoria que mentirosos falam devagar (por que estão pensando a resposta). Tudo bem, só que vários caras que conheço passam o dia inteiro na frente do computador, realmente falam aos pedaços.
O mentiroso que realmente é escolado consegue acreditar na mentira que está contando. Quer um exemplo? O cara fala que não houve nenhum contato íntimo com outra mulher. Tranquilo. Ele usou camisinha, não houve contato íntimo. Para uma mulher, a traição só ocorre se ela se apaixona por outro cara. Não apaixonou, pode sair transando com todo mundo, as amigas chamarem ela de vagaba e tudo. Na cabeça dela, o que aconteceu foi algo sem importãncia.Esse campo amoroso dá uma grana preta para "detetives".
Além de métodos alternativos, existem as seguintes dicas:
- O "vazamento" - quando a pessoa não consegue esconder aquilo que fez e a coisa aparece
- As dicas de enganação - uma série de atitudes típicas de enganação
É preciso pensar que o corpo, numa interação social (vulgo "conversa") emite uns 2000 sinais diferentes (a nível consciente e inconsciente) que se complementam. É informação redundante. A pessoa está emocionada, faz voz de quem está emocionada. Agita as mãos. Arregala os olhos. Ou não. Atores, Políticos, jogadores de Truco e de Poker sabem muito bem a necessidade de controlar esses sinais. Eles constroem um "muro de credibilidade".
Vazamento:
Há casos em que é possível ver a verdade "vazando". Por exemplo, a gesticulação das mãos não combina com o que o rosto diz. A voz muda o tom, a fala gagueja. Seria o caso em que a pessoa diz "NÃO", mas o corpo diz "SIM". Que nem o sujeito falando com a esposa ciumenta no campo de nudismo. Piadas aparte, existe um livro bom nesse assunto, chamado "O Corpo Fala". É bem didático. Na verdade existe toda uma ciência em torno do assunto, chamada de "Kne???-não-sei-o-quê " (odeio dar informação incompleta, mas esqueci). Dentro dessa ciência, o conteúdo das ações do indivíduo compõem um quadro de falsidade ou sinceridade, que pode ser interpretado.
Inconsistências ou Dicas de que há algo errado no ar
Essa daí é o que mais pega o sujeito "em flagrante". A mulher observa que de um dia para o outro, o marido começa a se vestir melhor, sorri todo dia, não se incomoda com nada. Começa a praticar esportes, fazer dieta. Alguma coisa aconteceu com ele. O contexto não bate com o que está sendo dito.
A cabeça de quem mente:
Excetuando-se a mentira social (você encontra alguém que te pergunta: "tudo bem?" e responde "tudo bem", afasta pessoas que podem emprestar dinheiro), ninguém tenta enganar alguém sem levar em consideração alguns dados, como:
- Conhecimento do nível de experiência de vida da vítima: Ou "calma que o diabo é velho". O problema nunca é ser o diabo. É ele ser velho. Portanto, mais experiente, mais capaz de distinguir entre mentira e verdade.
- Momento: A pessoa pode estar vulnerável ou pouco capaz de perceber.
- A Cobertura ou Conversa ensaiada: É preciso estar com aquilo que será dito como verdade na ponta da língua, mas conseguir também esconder as verdadeiras emoções. A mentira tem que convencer.
O fato da pessoa mentir de vez em quando não implica que ela seja vil. Por exemplo, uma loira pode se fingir de burra para facilitar as coisas na hora de arrumar namorado. É uma estratégia. Ou um perigo.
Ex:
Os 2 surfistas conversando na praia..
- Pô, meu, ontem estava na minha encarando as ondas, rolou um lance q nem te conto, cara..
- Contaí..
- Veio um coroa tentando puxar papo.. jeito de baitola
- E vc?
- Vc sabe, né? Surfista, 20 ano de praia, fiquei na minha.. Aí o cara chamou o vendedor de sorvete e deu uma nota de cinquentinha pro cara trazer um mé com gelo. Pleno sábado de sol, o cara tava tomando Vodka na praia. E ainda deu uma gruja pro moleque.
- E vc?
- Eu, vc sabe como é, né? 20 ano de praia, comecei a bater papo com o cara e aproveitar a vodka dele.
- Isso aí, boa.. e como é que rolou então?
- Aí fui bebendo uns lances.. o cara convidou para ir jantar na casa dele
- Vc recusou, né?
- Queisso.. comida de graça? Sabe como é, né? Eu, 20 ano de praia.. fui na minha, nem preocupei.
- E como terminou a história, bem ou mal?
- Merda, O CARA TINHA 40 ANO DE PRAIA! |
Métodos de Avaliação (o cara mente ou não):
Há métodos que pretendem fazer a avaliação da pessoa usando vários recursos:
Grafologia - avalia a escrita da pessoa. Virou ciência e é empregada por departamento de Recursos Humanos de empresas para avaliar funcionários. Trata-se da análise do texto da pessoa com o fim de descobrir o caráter, já que a forma da letra, a pressão, o uso da página podem dar pistas sobre a personalidade. O problema é que a pessoa pode caprichar na caligrafia e "fraudar" o teste com um pouco de prática. Mesmo que profissionais mais gabaritados sejam capazes de enxergar pistas por cima disso, são uma minoria. Existe a análise do conteúdo do texto, que é uma outra história, mas que ainda assim, exige prática.
Polígrafo ou Detetor de Mentiras - Ainda é usado nos EUA, como se fosse uma panacéia. Quem assistiu o filme "Instinto Básico" (aquele da Sharon Stone mostrando que está sem calcinha) já tem alguma dúvida sobre se funciona mesmo. Os resultados não são conclusivos. O que acontece é que um monte de fios são ligados a várias partes do corpo da pessoa e presume-se que a mentira gera uma diferença na resposta. A idéia tem alguma coisa boa, exceto que: existem muitos profissionais incompetentes aplicando (lá, aqui não sei se é aplicado).
Se os filmes de Holywood estão sendo feitos com personagens enganando esse tipo de coisa, é sinal que está caindo de moda por aquelas bandas, por que americano não mexe em time que está ganhando. Mas a melhor avaliação do polígrafo que fala em 92% de acertos com pessoas "normais". Falta definir o que são pessoas "normais". Seria muito fácil usar isso como prova, mas a justiça brasileira não aceita desde a Constituição de 1988.
Há vários softwares do gênero, disponíveis na internet, alguns até tem depoimentos do Clinton falando sobre Mônica Lewinski. Seria gravar a voz da pessoa enquanto diz a verdade ou mentira e depois rodar no computador para ver se os gráficos. Como o próprio artigo coloca, demora pra caramba para se treinar alguém no assunto.
"Paulígrafo" ou Tortura - Método muito usado pelas polícias de vários países. O grande problema é que tanto os inocentes quanto os culpados confessam. Em caso noticiado pela revista VEJA, um cidadão comum relatou a morte de um policial pelo disque-denúncia e foi barbaramente torturado (membro da corporação acreditou que o cara sabia quem fez). Dependendo da pessoa, funciona ou não. Um cara que trabalha(va) na polícia me contou que há casos em que o sujeito confessa na boa, mas precisa ter uns hematomas para poder justificar. O interessante é que a confissão sob tortura não é aceita como prova final em nenhum julgamento que preste (o que não impede da pessoa carregar sequelas).
Ameaça - Tudo depende da experiência de vida da pessoa. Há quem confesse sob ameaça e há quem não o faça.
Roscharch - O método tem história. Baseia-se na análise do que a pessoa fala quando vê determinados desenhos. Claro que presume-se a sinceridade nas respostas. Muito usado em entrevistas de emprego. Há cursos caríssimos sobre o assunto.
Soro da verdade - Se fosse bom, a polícia usava. Precisa de médico do lado para prevenir overdose.
Bebida - "In vino veritas" (a verdade está no vinho). Cada caso é um caso. O maior problema é determinar a dosagem. Alguém de estômago cheio leva mais tempo para se embriagar do que quando passa fome. E quem é que aguenta papo de bêbado?
Livre associação - O entrevistador fala uma coisa e o entrevistado vém com a primeira palavra que aparece na mente dele.
Engenharia Social - Já comentei em diversas edições do Barata Eletrica. Só acessar http://barataeletrica.cjb.net e procurar na máquina de busca. Um exemplo simples é o do "hacker" que se recusa a comentar a vida pessoal, principalmente se o sujeito trabalhar para o governo. Já para um caçador de talentos (vulgo vou-te-dar-emprego), repórter ou pseudo-pesquisador, ele se abre todo, conta tudinho, mesmo o que incrimina. Nos EUA, quando a polícia começou a prender, sempre se impressionaram com os caras que foram pegos em flagrante, faziam questão de confessar tudo, sem se lembrar que estavam se incriminando.
Experiência de Vida - Algumas vêzes funciona bem. Querendo saber se a pessoa fuma, é bem melhor pedir um cigarro a ela do que perguntar: "você fuma?".
Algumas conclusões:
Todos os métodos acima pretendem passar por cima do fato de que o mentiroso "profissional" (para não usar outra palavra) não irá conseguir "ensaiar" sua mentira. No caso de entrevistas de emprego, sempre há margem de erro. Em interrogatórios, também. No livro "Telling Lies", um verdadeiro tratado sobre o assunto, chegou-se a várias conclusões, entre as quais que bons "pega-mentirosos" não aprendem isso através de treinamento. A pessoa também pode ser boa para enxergar determinados tipos de mentira, mas não outros. Métodos para avaliar, nenhum merece confiança. Num determinado caso, uma paciente de manicômio conseguiu enganar todos os médicos. Era o caso de uma suicida em potencial. Como tinham filmado a cena dela mentindo, ficaram horas e hora até enxergarem momentos nos quais, por frações de segundo, a mentira aparecia. Todo mundo assinou a alta para a mulher. A mentira foi descoberta por que ela revelou.
Mentiras Sociais (no cinema, para dar alguns exemplos):
É difícil pensar ou acreditar que as pessoas próximas são capazes de mentir. Mas .. "o diabo existe" (.. e é casado, por que têm chifres). O filme do Stanley Kubrick (De olhos bem fechados) mostra bem vários aspectos interessantes. O casal Nicole Kidman (Alice) e Tom Cruise (Bill) estão numa festa, mas se separam. Quando um volta a encontrar o outro, o Cruise está com 2 garotas e a Nicole dançando com um cara. Apesar da bebida, nenhum dos dois faz nada demais. Mas, chegando em casa, conversa vai, conversa vem, coisa de casal, aparece a pergunta:
Alice: Quem eram aquelas garotas com quem você estava na festa?
Bill: Apenas modelos
Alice: Você transou com elas?
Bill: Não, o Ziegler me chamou, blá, blá, blá, etc..
E começa a mentir por conta de um pedido do anfitrião (para quem quebrou um galho). Acaba falando que não transaria outra mulher por amar a esposa que tem e depois pergunta sobre o cara (Szandor, o personagem) que estava dançando com ela, o que ele queria com ela? Os dois começam um papo. Ela sabe que o cara estava a fim de sexo e o Bill também. Só que quando fala que acha isso compreensível, a coisa muda. Alice começa a pressionar:
Alice: Quer dizer que a única razão para aquele cara (Szandor) conversar comigo seria sexo?
Bill: Nós sabemos como são os homens.
Alice: Então, pela lógica, você queria transar com aquelas modelos? (aí começa tudo)
O filme fala muito sobre mentiras de vários tipos. Claro que se for comentar, poderia colocar (algumas d)a(s) esplêndida(s) obra(s) de Nélson Rodrigues (como), "O casamento". O filme (assisti no cinema, apesar de ser teatro) começa com o médico da família contando pro pai da noiva que o futuro genro é gay. Não dá para resumir o suficiente para comentar, acontece muita coisa. É o que considero algo leve, em termos da obra desse cara. "Bonitinha mas Ordinária" é também excelente. Os outros filmes, considero muito pesados.
Algo mais pé no chão (os filmes acima tratam mais de gente "high-society" com mais de 30 anos) seriam os filmes "Garotos não choram" (Boys don't cry) e o filme peruano "No se lo digas a nadie" ou "Não diga a ninguém". Os dois tratam de pessoas que curtem gente do mesmo sexo. O "Garotos não choram" fala de uma menina que fazia todo mundo acreditar que ela era homem, caso verídico. "No se lo digas a Nadie" é o tipo de filme que "queima o filme" (uma menina me levou para assistir). Podendo editar algumas cenas de sexo (ou fechar os olhos), a enredo é interessante. Aborda um "maricon" tentando esconder que é gay. Tem as passagens hilárias, como a primeira relação dele com uma mulher, as formas de esconder, o momento que descobre que ser gay não tem cura, o casamento para salvar as aparências, etc.. Só recomendo por conhecer várias histórias similares à do filme.
Quando você conhece alguém que a vida inteira faz pose de machão e depois vê essa mesma pessoa rodando a bolsinha, leva dias procurando o queixo que caiu no chão. É que nem levar chifre (aqui em São Paulo, isso NÃO é raro).
Mentiras Sociais II:
As pessoas, algumas vezes, curtem muito tecer ilusões sobre a vida de modo geral. Quando se trata de vida afetiva então, nem se fala. Todo mundo (ou quase todos) já inventou uma história daquela "menina incrível" que conheceu numa festa e das coisas que aconteceram depois. O que se pode fazer?
Falar que conheceu a menina e que acabou não rolando nada? As vezes o fato não aconteceu, mas quase, então é contado como se tivesse acontecido. Melhor para animar uma conversa do que falar que foi encontrar uma puta bem barata no centro da cidade. Aliás, falando nisso, a revista da Folha num domingo desses comentou que as prostitutas estão se vestindo como "patricinhas" e encarando discotecas. O sujeito vai paquerar a menina, recebe a oferta "programa por X Reais".
Pois é, me contaram uma história: o sujeito foi no hotel, pagou adiantado, tirou a roupa, aí depois de tirar a roupa a menina pediu mais dinheiro, se fingindo de coitada. O cara não tinha, mas perdeu a vontade de fazer. Pediu o dinheiro de volta, a menina começou a chamar o segurança do lugar, alegando que o cara estava tentando agredi-la.
Interrogatórios
Praticamente qualquer conversa pode ser um interrogatório, vide aqueles que entendem de "Engenharia Social". Mas existem aqueles que são assustadores, como dar depoimentos (especialmente quando se tem alguma "culpa no cartório").
Como na polícia, por exemplo. Numa conversa sobre a ALCA (pintou umas manifestações em sampa, videhttp://www.midiaindependente.org , quem estiver interessado), foi comentada a questão do procedimento dos policiais em caso de prisão de manifestantes.
Para quem vai preso, há duas formas de se entrar na cela, chorando e morrendo de medo ou de cabeça erguida. De cabeça erguida, é mais fácil obter respeito (de outros presos) e sofrer menos.
Mas óbvio que o objetivo é amedrontar o "elemento" ao máximo. Se brincar, falam que o amigo dele já falou tudo, só precisam de confirmação. Podem até colocar alguém "deles" junto na cela, só para ouvir histórias. O cara com ódio, medo ou dúvida, revela mais do que devia. E pode até dar pista para se incriminar em outra coisa que não tem nada a ver com o motivo pelo qual o interrogatório começou. Então, todo mundo tinha sido avisado que não era para conversar com os policiais, só na presença do advogado. O problema é que os três tinham estavam na viatura e nunca chegávamos na delegacia. Só trocavamos de viatura. A cabeça estava a mil. Uma hora, um dos policiais, curioso, começou a puxar papo:
- O que que vocês estão fazendo aqui? Não parecem ladrões.
- Ah, (todo emocionado) somos da passeata contra a ALCA.
- Que é isso?
A gente deu um beliscão no cara para ele se calar. Por quê para a polícia, o primeiro passo é fazer você abrir a boca. O problema era tal que não se podia avisar para o imbecil que aquilo era interrogatório. Isso seria chamar a atenção do guarda para quem estava mais a par da coisa ou quem era o "cabeça" do grupo.
Se a pessoa pode mentir para a polícia, a legislação brasileira não é muito severa em relação ao assunto. Confissão não serve como prova. Ninguém é obrigado a falar contra si próprio ou se incriminar. Como legislação é algo que muda muito (um novo código penal está chegando) consulte um advogado. Na dúvida, fique calado até ele chegar.
Mentiras na Internet:
Aí é demais. Precisaria de um enciclopédia. Existem desde Hoax, os embustes, (como o aviso de que o ICQ se tornará pago), até os que se fingem de mulher para poder conversar com alguém. Um que merece destaque é o caso da Carla Coelho, uma menina que se apaixonou por Flávio de Souza, através da internet. O cara falava que era um fazendeiro rico e que iria casar com ela. Durante um mês, gastaram fortunas em impulsos telefônicos e emails. Depois foram se encontrar. Ela tinha enviado uma foto de quando estava mais magra. Ele, não tinha um tostão furado. Viajaram juntos, sumiram, viraram notícia na TV. Depois a realidade: o cara era um duro e a menina tinha gastado todas as economias e mais alguma coisa para pagar a "lua de mel".
Recursos Humanos e Entrevistas para Emprego:
Se vc é mais um daqueles que está na moda (desempregado) é bom saber: da mesma forma que há candidatos que mentem, há entrevistadores, agências de emprego e ofertas que não tem a ver com a realidade. No caso de concurso público, por exemplo: tem prefeitura que precisa equilibrar o orçamento e lança um concurso público fictício com uma vaga que só exige 2o grau completo. Chovem inscritos, todos pagando a taxa de inscrição. Nenhum presta atenção na cláusula que diz: "a entrevista é eliminatória". Pronto, resolveu o problema de caixa da prefeitura.
Uma parte dos recursos de avaliação de candidatos, como "dinâmica de grupo", "inteligência emocional", não tem nada a ver com a realidade. Já trabalhei nesse tipo de coisa para contratar estagiários. A questão é que fica muito mais fácil o sujeito aceitar a resposta sem discutir.
Não acredito em tentar um desses sites de currículos on-line. Acho bem mais negócio jogar na loteria esportiva. Se colocar o C.V. online e ficar esperando ajudasse, desemprego não era notícia.
Outra coisa que acontece muito (para a desgraça de muita gente), é o aparecimento daquele amigo todo sorridente, falando que vai ajudar. Fala que conhece todo mundo. Aí ele aproveita e pede um monte de favores, do tipo "me ajuda com um problema no micro", "me ensina JAVA". E por aí vai, sugando, sugando ... quando não fica te enrolando até o dia em que fala "olha, por mim você estava dentro, a culpa foi do filho do patrão". É uma das melhores formas de suborno que conheço.
Mentira em grande escala:
A forma que a chamada "Grande Imprensa" funciona é a seguinte: informação misturada com entretenimento. Por isso, poucos repararam na morte da Madre Teresa de Calcutá (mas todo mundo comentou a morte da Lady Di, que aconteceu no mesmo dia). O problema não é tanto a mentira ou verdade da coisa.
Os jornais (imprensa escrita) tendem a se basear na imprensa on-line (Rádio e TV). Dificilmente há controvérsias entre o que diz um tipo de imprensa e outro. Não é raro copiarem-se uns aos outros, as vezes até sem checar se o que estão transmitindo é a verdade. O pior é o que podem fazer com o visual da notícia tanto para esvaziar o conteúdo (todo mundo fica sabendo mas ninguém dá bola) como para exagerar. Vide http://www.epl-lousa.pt/mediana/vm.html . Algumas vezes se usa propaganda como notícia ou mesmo inverdades.
Trata-se de um trecho do que foi transmitido pelo rádio, numa noite de Halloween em 1938, por Orson Welles (mais tarde se tornou um grande cineasta com o famoso filme "Cidadão Kane"). Foi uma dramatização do livro de H.G. Wells, "Guerra dos Mundos". O enredo foi bastante imitado em vários livros e filmes (existe uma fita baseada no livro). Trata-se da invasão do nosso planeta por marcianos. Só que o Orson Welles fez a coisa pelo rádio de tal forma que parecia o Cid Moreira ou outro cara do Jornal Nacional cobrindo um evento REAL (naquele tempo as pessoas acreditavam no rádio). Houve até gente que tentou o suicídio para não virar comida de marciano! Quando repetiram esse mesmo show (traduzido para o espanhol) em 1949, no Equador, uma multidão incendiou a estação de rádio, ao descobrir que era tudo mentira! 20 pessoas morreram. Querendo, veja o link http://earthstation1.simplenet.com/wotw.html para ouvir o show completo.
Mas a história mais interessante (sobre manipulação da opinião pública) é a de um livro que comentava uma estação de rádio, a ABSIE, American Broadcasting Station in Europe (Emissora Norte-Americana na Europa). Fez contra-propaganda, durante a 2a Guerra Mundial. A situação era a seguinte: já se sabia que a Alemanha não ia ganhar a guerra. O problema não é fazer o país se render, é convencer o povo que a rendição fosse encarada como coisa boa. Mais ou menos como fazer um corintiano baixar a cabeça com humildade e admitir para um palmeirense seu time não está bom. Como fazer para veicular mensagens radiofônicas de forma que a população alemã ouvisse. Havia a BBC de Londres, índice alto de audiência. Mas tinha o problema da pena de morte. Ouviu, descobriram, fuzilamento sumário. Os americanos fizeram essa emissora, denominada 12-12, cuja locação fictícia era na Renânia, só para despistar.
Na primeira fase, o trabalho era convencer o público (alemão) que a emissora era do governo (alemão). Tomaram algumas precauções, como só se falar alemão (no prédio) durante as emissões de rádio.
Foram reunidos peritos para fazer os programas e escolher vocabulário usado por outras emissoras militares. Quando uma cidade alemã era bombardeada, os radialistas recebiam fotos (em alguns casos até mesmo relatos de prisioneiros eram usados) para poder descrever para os ouvintes o que ainda estava de pé e o que podia ser guardado num cinzeiro. Como em qualquer rádio, os discursos de líderes nazistas eram repetidos, assim como propaganda do exército.
Qual a diferença? Quando se sentiu que já havia uma audiência cativa, começou a outra fase da emissora: a emissão de notícias que fariam confusão e discórdia.
Em alguns casos faziam quase a mesma coisa que aconteceu na letra daquela música dos Paralamas - "Vital andava a pé e achava que a vida estava mal.. [..] conselho de seu pai - motocicleta é perigoso, Vital". Então, faziam propaganda de oficiais que recebiam medalhas por ações completamente estúpidas, como movimentar seus soldados à luz do dia (os outros imitavam e ficava mais fácil para os americanos bombardearem as tropas). Divulgavam de forma indireta que a disciplina estava de mal a pior. Noticiavam batalhas que nunca existiram. Do jeito que funcionaram na segunda fase, era quase a mesma coisa que contratar um jogador de futebol super craque para fazer baderna na concentração em noite anterior à jogo de decisão.
Mentiras Literárias:
Um dos maiores casos de falsificação do século XX foram os famosos "Diários de Hitler".
"Descobertos" por um repórter da revista alemã Stern, Gerd Heidemann, que comprou-os do antiquário Konrad Kujau. A "história" era que tal material estava num avião derrubado. A revista pagou uma nota pelo material e outras revistas, como a Newsweek também entraram com dinheiro vivo para garantir os direitos de publicação. Teve até um sujeito de Cambridge, Hugh Trevor-Roper, historiador renomado, que checou e garantiu a autenticidade dos documentos. Só teve um probleminha: a análise química do papel revelou o uso de polyester. Que não era usado durante a II guerra mundial. O próprio tipo de papel do diário só ficou disponível para o mundo a partir de 1955. 62 volumes.. tudo falso! a dupla Heidemann-Kujau ganhou 4 anos de estadia gratuita (prisão) por conta disso. Existe até filme desse lance.
O plágio é algo muito comum no mundo tudo. No Brasil, putz, nem vou falar. Existem caras se posando de "hacker" e escrevendo textos totalmente copiados de outros textos famosos na internet. As vezes até colocam no finalzinho, (lá numa parte onde ninguém lê) que reconhecem não serem os autores oficiais. O pior é que são textos horríveis (alguns até úteis porém desatualizados). E a moçada paga para ler esses "marci@nos". Alguém conhece um desses casos?
Mentiras Cinematográficas:
O caso mais notável seria a lenda da "Bruxa de Blair". Alguém assistiu esse filme? Manja só: "Em Outubro de 1994, 3 estudantes de cinema desapareceram nas matas perto de Burkittesville, Maryland, durante a filmagem de um documentário. Um ano depois, os filmes da filmagem foram recuperados". Nem vou gastar meu tempoO filme "F for Fake" de Orson Welles é outro, muito bom sobre o assunto. O tempo todo parece um documentário, mas trabalha o tempo todo o que é falso e verdadeiro.
Boatos e Fofocas
O que seria a imprensa brasileira sem os boatos? O que seria de várias revistas sem as fofocas?
Advogados
Há muita piada sobre advogados. A REVISTA DA FOLHA de 20/05/01 publicou uma extensa reportagem sobre o assunto. Não é engraçado. Mais de 7.000 queixas por ano na Ordem dos Advogados do Brasil. Só 3 advogados perderam o direito de exercer a profissão e me parece que a Ordem não divulga os nomes. É bom saber que algumas áreas da advocacia são perigosas. Advogados criminalistas, por exemplo, tem uma expectativa de vida baixa (talvez por que alguns clientes decidem por formas menos burocráticas de resolver diferenças jurídicas e/ou relativas a incompetência). É possível que o mesmo advogado que você contratou para processar alguém aceite dinheiro da outra parte. No caso, pode ter certeza que você será o último a saber. Acredito que é bem comum, essa prática. Muito cuidado.
Política?
Voltando ao assunto.. Abraham Lincoln (o último cara que conseguiu ser presidente dos EUA a despeito de ter sido madeireiro), dizia (entre outras) que "é possível enganar todos durante pouco tempo, também é possível enganar poucos durante muito tempo mas não é possível enganar todos durante todo o tempo". E tinha até razão. Só que pela estatística, basta enganar a grande maioria (entre 50% e 90%). Com isso já se ganha qualquer votação e só com a ajuda da televisão é que se pode tentar tirar o sujeito do cargo. Lincoln talvez não conhecesse esse lado da imprensa, quando falou aquilo (mesmo que tivesse idéia, seria só mais uma mentira entre tantas que todo mundo escuta).
Mesmo que conhecesse, ainda tinha o fato de que um político fala aquilo que interessa para que o povo o apoie.
Sobre isso, ver o regime nazista. Adolph Hitler conseguiu convencer todo mundo. Inovou as técnicas de propaganda (pergunte a qualquer publicitário). Uma máxima era que "a mentira, repetida muitas vêzes, vira verdade". Triste, né? As técnicas de propaganda inventadas pelo partido nazista são bastante simples e práticas. E muito usadas até hoje, para vender carros, políticos, religião, etc:
- O conteúdo da mensagem tém que ser simplificado ao máximo, visando compreensão imediata
- O melhor horário para dispersão de determinada mensagem é à noite, quando o indivíduo chega cansado em casa e está com menor disposição para pensar (aceita qualquer besteira).
- A mensagem deve ser repetida ao máximo, em todos os meios de comunicação.
- etc, etc..
Deve ser pensando em melhorar suas chances com o público que os políticos brasileiros detém 3.000 dos 5.000 concessões de rádio existentes no país (sem falar em emissoras "piratas" que são de políticos). Aquele deputado, dono de construtora cujo prédio desabou no RJ, era dono de uma estação de TV. Ah, sim, o resto que não está nas mãos de políticos, está nas mãos de empresários ligados a políticos.
Acreditar naquilo que este ou aquele político (ou mesmo as chamadas "fontes seguras") dizem na imprensa é um jogo de advinhação. Pode-se escrever livros sobre isso. As vezes fica uma coisa de negar o tempo todo boatos que são verdade cristalina, depois. Apesar que algumas vezes é necessário manter o segredo. Se existe hipótese de congelamento e isso é divulgado com antecedência, todo mundo reajusta os preços. Se todo mundo acreditar que a moeda vai desvalorizar em 20%, os preços são reajustados e a moeda é realmente reajustada em 20%.
Algo muito interessante é o chamado cover-up, gíria americana, para invencionices para a imprensa divulgar, quando tudo dá errado. A expressão em si tem a ver com cobertura. Mas é usada quando alguém (às vezes o governo) faz uma besteira gigantesca. Alguém tem que inventar alguma história para abafar ou encobrir o caso. O público mais esclarecido normalmente percebe que se trata de um embuste. Mas a história de cobertura é destinada à velhinha de Taubaté.
Esta velhinha (a nova geração não conhece) é um personagem das crônicas do Luiz Fernando Veríssimo no final da ditadura. Relembrando: o Brasil já tinha tido a censura e o tempo áureo das vitórias do regime militar estava para trás. A inflação subia, desemprego. Ninguém mais acreditava no governo. Menos uma velhinha que morava em Taubaté, com seu cachorro de estimação (chamado Átila, nome do porta-voz do governo). Enquanto essa velhinha acreditasse que o Brasil estava indo bem, os banqueiros internacionais continuaram achando que o governo militar tinha "sustentação popular". Era a única pesssoa (personagem de crônica) que ainda acreditava nos desmentidos de escândalos e besteiras dos choques econômicos.
Nos EUA, existem escândalos dos quais até hoje o governo e alguns políticos se recusam a explicar totalmente, com medo das consequências. Vários estão na página http://www.whatreallyhappened.com/.
Uma coleção de casos do tipo "tem algo podre no reino da Dinamarca". O caso de Mônica Lewinski foi apenas um que foi explorado até as últimas consequências, sem resultado, Clinton continuou lá. O caso do Wacko foi o que mais deixou o governo americano de calças na mão. Não vou contar a história toda, mas muitos devem ter visto referências a esse incidente em desenhos animados, como no South Park e em filmes, como "Até as vaqueiras ficam tristes". Basicamente trata-se de um rancho de crentes que foi cercado e depois invadido. Só que algo deu errado e houve um incêndio gigantesco que queimou as famílias dentro do rancho. Uma série de procedimentos policiais teria sido feita de modo errado e história contada pela polícia não cheira bem. Em suma, desconfia-se (alguns tem certeza) de que foi um escândalo (mal abafado). Outra seria o caso da contagem de votos na Flórida, da qual já falei na matéria Hackers e as Eleições. Se você quiser pesquisar mais "podres", alguns muito bons estão no site Skeleton Closet (Armário de Esqueletos) http://www.realchange.org .
O filme Wag the Dog mostra um presidente americano (papel interpretado por Justin Hoffman) que não hesita em declarar uma guerra contra um país qualquer só para que a imprensa pare de falar no escândalo que tem com sua secretária. Outro seria o filme Em nome do Pai, que conta a história de 2 jovens (e mais um monte de gente) presa por um atentado terrorista na Inglaterra. Simplesmente obrigaram 2 jovens a confessar (através de tortura mental e chantagens) o atentado a bomba. Dessa forma o governo inglês passaria uma imagem (para o povo) de que estaria preparado para combater a ameaça de novos ataques. A questão é que a medida que vai ficando patente que os presos são inocentes, descobre-se também que o governo que os mandou para uma prisão de segurança máxima para cumprir pena perpétua sabia que eram inocentes.
Quanto aos escândalos brasileiros, basta ler os jornais. Sempre tem alguma coisa que não querem explicar, acham um culpado (que é comodamente chamado de SUSPEITO). Esse cara aparece na mídia como se fosse o criminoso. As investigações são cobertas passo a passo, como se fosse um filme americano de mistério, publicado dia-a-dia nos jornais.Um tempo depois as notícias começam a rarear e quando você percebe, talvez um ano depois, aparecem as notícias de que as provas eram inconclusivas, houve um engano e inocentes pagaram pelos culpados. Isso quando não ficam adiando o resultado para ver se o povo esquece do assunto.
Quem se lembra do que aquele político disse há anos "o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde", sem saber que a câmara estava ligada e a conexão via satélite também, resultando numa queimação de filme logo nas primeiras semanas de um governo tido como esperança contra a corrupção? Se a imprensa insiste em mostrar os "podres" do passado deste ou daquele político, não consegue saber nem a agenda dele no dia seguinte. Nunca mais recebe colaboração nenhuma do sujeito (que pode chegar a ser ministro ou quem sabe, presidente, algum dia). Com medo desse futuro, o passado (bastante ruim) de alguns políticos não é vasculhado. Claro, ainda há a possibilidade de se sofrer outras represálias mais sérias.
Finalizando:
Não dá para finalizar. Comecei querendo escrever sobre algo bem específico, foi aumentando, aumentando. Se brincar, qualquer dia escrevo mais sobre o assunto.
Bibliografia:
BRANT, Joseph E. - Segredos da Guerra Psicológica. Ed. Difusora Cultura. São Paulo, SP
Revista Caros Amigos - Ano 1 - Número 2 - Maio 1997
WEIL, Pierre - O corpo fala - Editora Vozes
Revista Caros Amigos - ano 1 - n 2- maio 1997