Motumbá meus (minhas) irmãos (ãs).
Mais uma vez aqui estamos dando continuidade ao Estudo que nos propomos a fazer sobre este ORIXÁ DO FERRO. O primeiro que entra na ordem do XIRÊ. Aquele que abre os caminhos, que quebra todas as demandas. Aquele que forja o Ferro, criando armas, utensílios para uso individual ou coletivo. O mesmo que criou todas as armas dos outros ORIXÁS.
Desta forma, desejo que a continuação deste Estudo possa ser um motivo a mais para acrescentar em nossa devoção a este ORIXÁ, bem como uma forma de apoiar nele nossa confiança, nas horas de adversidade e necessidades de batalhas.
Ogum
Governa o ferro, a metalurgia, a guerra. È o dono dos caminhos, da tecnologia e das oportunidades de realização pessoal. Foi, num tempo arcaico, o orixá da agricultura, da caça e da pesca, atividades essenciais à vida dos antigos.
Assim, ele é muito próximo de Oxóssi ou Odé e outros orixás caçadores, como Erinlé ou Ibualama, Logun Edé e Otim, que são os donos da vegetação e da fauna, detendo a chave da sobrevivência do homem através do trabalho. Orixá Oco divide com Ogum o patronato da agricultura, mas foi esquecido no Brasil, provavelmente porque aqui o candomblé se formou como religião urbana.
Ogum dá aos homens o segredo do ferro
Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior.
Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área da lavoura. Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem-sucedido. Do mesmo modo que Ossaim, todos os outros orixás tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio. Ogum, que conhecia o segredo do ferro, foi até a mata e limpou o terreno.
Os orixás, admirados, perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão. Ogum respondeu que era o ferro, um segredo recebido de Orunmilá. Os orixás invejavam Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só a agricultura, como a caça e até mesmo a guerra.
Por muito tempo os orixás importunaram Ogum para saber o segredo do ferro, mas ela mantinha o segredo só para si. Os orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca de que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogum aceitou a proposta.
Os humanos também vieram a Ogum Pedir-lhe o conhecimento do ferro. E Ogum lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram sua lança de ferro.
Mas apesar de Ogum ter aceitado o comando dos orixás, antes de mais nada ele era um caçador. Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado.
Ogum se decepcionou com os orixás, pois, quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora diziam que não era digno de governá-los. Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da árvore de acocô e lá permaneceu.
Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram.
Todo mês de dezembro, celebram a festa de Iudê-Ogum. Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de Ogum. Ogum é o senhor do ferro para sempre.
Obs. Mariô é a folha da palmeira do dendê (usada por Ogum para cobrir seu corpo e defender-se de insetos; foi usada nas casas como um símbolo de proteção. Muito presente em sua festa).