terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

COLETÂNEA O CANDOMBLÉ - A ESTRUTURA - PARTE I



Candomblé é uma estrutura de culto às forças da natureza, à um hino à vida como Eterno Movimento, que se manifesta nas danças, nas cores dos Orixás, nos elementos sacramentais. 

Ritual comunitário de cantos, danças e alimentos sagrados na sua forma pública, o Candomblé é sacramentado pelo Pai ou Mãe de Santo, pelos filhos de Santo, pelos tocadores de atabaque (Ogan), que entoam os cantos sagra dos possibilitando a vinda do , com a participação da comunidade dos mais velhos às criancinhas. 

Todos cantam e saúdam os Orixás, executam a dança sagrada, num hino à Alegria, Amor e Partilha. 

O Candomblé expressa-se nos terreiros ou roças, onde se cultuam os Orixás e os ancestrais ilustres. O terreiro contém dois espaços, com características e funções diferentes: um espaço urbano, construído, onde se dá a dança; um espaço virgem (árvores e uma fonte, equivalentes à floresta africana), que é considerado sagrado. O chefe supremo do terreiro é o Babalorixá ou Iyalorixá (pai ou mãe).

Eles são detentores de um poder sobrenatural — o Axé, a força propulsora de todo Universo. 

O Axé impulsiona a prática sagrada que, por sua vez, realimenta o Axé, pondo todo sistema em movimento. O Axé sendo principio e força é neutro. Transmite-se, aplica-se e combina-se aos elementos naturais, que contém e expressam o Axé do terreiro, que pode ser: (a) o Axé de cada, realimentado através das oferendas e do ritual; (b) o Axé de cada membro do terreiro, somado ao do seu , recebido na iniciação, mais o Axé do seu destino individual (Odu) e o herdado dos próprios ancestrais; (c) o Axé dos antepassados ilustres. O Axé como força pode diminuir ou aumentar dependendo da prática litúrgica e rigorosa observância dos deveres e obrigações. 

 A força do Axé é contida e transmitida através de elementos representativos do reino vegetal, animal e mineral (oferendas) e podem ser agrupados em três categorias: (a) sangue vermelho do reino animal (sangue), vegetal (azeite de dendê) e mineral (cobre); (b) sangue branco do reino animal (sêmem, a saliva), vegetal (seiva), mineral (giz); (c) sangue preto do reino animal (cinzas de animais), vegetal (sumo escuro de certos vegetais) e mineral (carvão, ferro). 

Estes três tipos de sangue, por onde veicula o Axé, com sua coloração, vai determinar a fundamental importância da cor no culto. Resumindo: o Axé é, portanto, um poder que se recebe, partilha-se e distribuí-se através da prática ritual, da experiência mística e iniciática, conceitos e elementos simbólicos servindo de veículo. É a força do Axé que permite que o venha e realize-se. 

A existência transcorre em dois planos: o Aiyé (mundo, habitação do homem) e o Orun(além, habitação dos Orixás, mundo paralelo ao mundo real, que coexiste com todos os conteúdos deste). Cada indivíduo, árvore, animal, cidade, etc, possui um duplo espiritual e abstrato no Orun. Os mitos revelam que em épocas remotas, o Aiyé e o Orun estavam ligados, e os homens podiam ir e vir livremente de um local a outro. 

Houve, porém, a violação de uma interdição e a conseqüente separação e o desdobramento da existência. Um mito da criação nos conta que nos primórdios, nada existia além do ar. Quando Olorun começou a respirar, uma parte do ar transformou-se em massa de água, originando Orixalá — o grande Orixá Funfun.

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