Ogum, Orixá da força e da energia, atua na linha de frente, na abertura dos espaços, cuja ação acontece em situação de conflito e contradições. Sua energia o faz ativo senhor de vibrações múltiplas, combinando sua atividade com a de outros Orixás. Por Ogum, o homem ultrapassa a dualidade implicando conflito e encontra a sua paz na unidade propiciada pela vibração do Orixá.
O Orixá é, nesses termos, o guerreiro (forças opostas) vencedor (promotor da unidade).
Guerreiro, confronta-se destemido contra situações de oposição material ou espiritual. No embate, conhece todos os terrenos, naturais e espirituais.
Costuma-se dizer que Ogum tema a energia do fogo, cujo calor funde elementos naturais. O calor funde o ferro, transforma a madeira em carvão em cinzas. No plano humano, os problemas transformam-se, modificando atitudes. A vontade de atingir metas, pontos determinados pela imaginação e pelo espírito, reforça-se. Sua energia promove novas realizações, ensina a coragem pessoal, o serviço da solidariedade.
Ogum é o próprio caminho, a busca da passagem, da porta estreita, cuja ultrapassagem supõe lutas e dificuldades, nunca abandonadas, mas superadas por essa passagem. Nesse sentido também é desbravador.
Suas alianças reconhecem a complexidade do mundo. As vibrações de Ogum e de seus filhos associam-se com vibrações de outros Orixás para completar a dialética da transformação:
Ogum trabalha com Xangô em combinação com Oxóssi, atuando nas matas e nas pedreiras, como Ogum Rompe Mato. Para que opere nessa vibração, é necessária a sabedoria de Oxóssi, o caçador de almas, o Senhor das Matas, e a presença indispensável de Xangô, que representa a defesa da Justiça na transformação da natureza.
Ogum atua no campo próximo de Iemanjá, à beira-mar ou nas próprias ondas, sob o nome de Ogum Beira-Mar ou Ogum Sete-Ondas; Ogum vibra na Calunga, nos cemitérios, fazendo-lhes a ronda como Ogum Megê.
Ogum Delê, que alguns entendem ser a força pura de Ogum e entendem como o Orixá Ogum "de lei" (o que tem os direitos) e outros encontram na origem Ioruba da palavra "deleh", o que domina o campo, o que toca a terra, o senhor dos espaços.
Ogum trata das energias do equilíbrio cósmico (cosmos como ordem astral, ordem e dinanismo entre os astros), que condiciona o equilíbrio da natureza como encontrado nos campos, nas campinas floridas, no horizonte azul, no ritmo do tempo, na alternância da chuva e do sol, da noite com o dia, como Ogum Matinata.
É interessante assinalar o sentido ao mesmo tempo espiritual e poético do adjetivo matinata derivado de matina (alvorada, a hora do nascer do sol, o astro que dá calor e vida à Terra).
A espada é símbolo que associa à idéia do guerreiro.
Rio, abril de 2000.
PERRI, Flávio Miragaia. O encanto dos Orixás. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 2002.
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