A roupa não faz o homem
Em um país colonizado por um outro, de religião católica, é evidente a influência religiosa e cultural, percebemos esses traços a cada minuto. Quando andamos nas ruas sentimos os hábitos dos colonizadores presentes na cozinha, em nossa língua e na cultura, com influência arquitetônica e comportamental, moramos e vivemos como europeus, com raras exceções.
Até ai estaria tudo correto é a história do vencedor sobre o vencido, natural e em todos lugares podemos sentir isso, porém é natural que com o tempo as pessoas consigam cortar tais influências, e terminem valorizando grande parte da essência original de uma cultura.
Quando falamos das religiões, podemos citar claramente uma tendência, cada vez maior, dos católicos visitarem Roma na tentativa de se aproximar de sua raiz, o mesmo acontece com os Judaicos, e também com os muçulmanos que constantemente viajam para suas terras de origem buscando informação e aumentando o conhecimento religioso e filosófico.
Para as pessoas que tem como religião o Orisa, a própria palavra em língua Yoruba, mostra o caminho a ser seguido, nossas raízes estão na Nigéria nos estados Yorubas que fazem parte desse país.
O natural seria com o tempo nos aproximarmos cada vez mais desse povo e tentar transformar a religião afro brasileira, em religião Yorubana, se falamos Yoruba nos rituais, e se cultuamos os Orisas divindades Yorubanas, isso é perfeitamente normal.
Em território Yoruba, as mulheres não costumam usar saia de armação, não usam sapatos para dançar para os Orisas; entre tantas outras coisas. Todos rituais são praticados com roupas muito simples e tanto homens como mulheres permanecem de pés descalços nos rituais.
Isso é só um detalhe, em nossa terra ainda existe quem leva o iyawo na igreja para rezar. A minha pergunta é: será que nossos irmãos ignoram suas raízes ou admiram a origem de outras culturas; ou, seria pior ainda, tem vergonha da real condição de nossa essência?
A roupa não faz o homem, em muitos casos podemos ver um comportamento padrão como se tudo seguisse a famosa receita de bolo da roupa branca, não sabem nossos irmãos que em muitos rituais o que menos importa é a roupa.
É comum ver um sacerdote Yoruba praticando um ritual sem camisa, isso é natural. Praticamos uma religião que é muito fácil de entender. O Orisa nos conhece desde antes de nascermos e dele não escondemos nada muito menos nosso corpo, haja visto que em algumas iniciações, o uso da roupa é desnecessário e a divindade se é que podemos chamar assim, o Orisa não reconhece o indivíduo vestido.
As informações estão a disposição das pessoas, mas a boa vontade em aprender tem que partir delas, e o esforço para retirar de suas vidas o preconceito, vai exigir muito. Temos que estar preparados para o encontro com nossas raízes que certamente não é em Roma, e muito menos em Salvador.
Não tenho nada contra o povo baiano, bem pelo contrário admiro muito esse povo alegre e lutador, mas nossa raiz não está na Bahia e sim na Nigéria. Na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, e no Rio Grande do Sul, assim como em outros estados que receberam grande número de escravos, foi e continua sendo vivenciada parte de uma história que começa em território Yoruba.
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