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sexta-feira, 1 de março de 2013

COLETÂNEA O CANDOMBLÉ - O USO DA CARIDADE - PARTE III

Motumbá meus (minhas) irmãos (ãs) de nosso BLOG OLHOS DE OXALÁ. Aqui estamos em mais um novo mês, que vem como a vida, acompanhado de muitas surpresas. Novas lutas, novas esperanças, novas conquistas.

E como temos visto a COLETÂNEA O CANDOMBLÉ, tem vindo cheia de novidades, HIERÁRQUIAS,  MATRIARCADOS, ATITUDES DENTRO DE UMA CASA DE ASÉ. Enfim, vários e vários assuntos. Não deixando de ser, desta forma, aqui estamos dando a seqüência de mais um tema bem atual, interessante e pouco usado: O USO DA CARIDADE

Vamos ver o que temos por aqui: 

Novamente voltando a dar seqüência a esta coletânea sobre O USO DA CARIDADE NO CANDOMBLÉ, vamos partir do ponto lógico para darmos continuidade ao assunto em questão. 

E para isso vamos tentar compreender melhor o seu CONCEITO, o que vem a ser de fato a dita CARIDADE, que todos comentam, falam e ainda se dizem fazer.


CONCEITUANDO CARIDADE 

Este ponto é muito interessante, visto que, existe uma aceitação muito forte de que caridade significa ter piedade de alguém, quer dizer, dar alguma coisa para que alguém sane sua fome, ou mate sua sede, ou se agasalhe, como fazem as pessoas todos os dias, quando passam por alguém que pede nas ruas. 

O simples ato de pedir muitas vezes não é para matar a fome de alguém, pode-se dizer que seria até um mau costume que se adquiriu na infância que dificilmente se libertará, haja vista que, este vício tem proliferado muito, nas grandes e médias cidades. 

Observe que é lucrativo pedir, quando as doações são feitas em dinheiro, e é o que costumeiramente acontece, obviamente, no final do dia, ou do mês, a soma arrecadada de um pedinte sempre ultrapassa os ganhos forçados de quem ganha um salário mínimo, ou rendimentos advindos da roça. 

Muitas pessoas vêem caridade como uma passagem para se conseguir o reino celestial, como coisa que uma esmola que se dê a alguém possa transformar o interior do ser humano que continua a praticar todo tipo de iniqüidade, e transtornos para com todos que estão ao seu lado. 

Matar a fome de um ser que passa em sua residência, com um convite para um almoço, deixando-o saciado dessa dificuldade, é uma ajuda, entretanto, deve-se ficar claro que aquela refeição não é o bastante para toda uma vida.  

O mais desgastante, é que, a humilhação de pedir venha sempre com a resignação de quem está sofrendo por qualquer ato praticado no passado, e necessita suportar tais tipos de coisas para que se trabalhe alguma inferioridade que de livre e espontânea vontade, que não conseguiu se libertar. 

A ajuda mútua, ou doações às pessoas que pedem não constituem caridade, mas, um dever como ser humano que deve ter sempre dentro de si o princípio de cooperação, de irmandade, de amparo, àqueles que se encontram no caminho do sofrimento, e da dor material com fome e frio. 

Sabendo-se que todos têm a obrigação natural como ser social a ajudar a todos que o cercam, constitui uma obrigação que todos têm e não podem fugir, porque o princípio do amor, da felicidade, da benevolência deve estar sempre aflorando no coração de todos. 

A esmola que muitas pessoas dão, tem imediatamente a exigência de que tal fato seja convertido em caridade, cujos impulsos normalmente, são reclamações do passado que as pessoas não entendem, mentalizando que a prática de ajudar ao próximo seja fazer caridade. 

Muitas pessoas dizem: olha, quando eu passo por perto de um pedinte que não dou esmola, fico apavorada, volto e faço a minha doação àquele irmão que pediu tão humildemente, e a pessoa quando faz isto, realmente deve estar precisando muito. 

Veja que algumas outras pessoas, passam, jogam qualquer quantia no prato do mendigo, e continuam sempre arrogantes, imaginando que já fizeram a sua caridade, ao aliviar a dor de um irmão que não precisa somente de comer e sanar seu frio, que é uma constante; todavia, muitos outros problemas que não são esmolas, que vão resolver a contento as suas dificuldades, por toda a vida real, que é a que continua. 

Muitos seres humanos foram enquadrados para virem na forma de pessoas miseráveis, para tentar se libertar da prepotência, do egoísmo, ou de algo semelhante, mas não suportam. 

A caridade ultrapassa a tudo isto que foi colocado, não é esmola, não é doação de comida, não são doações de restos de roupas e cobertores que vão caracterizar uma caridade, que a humanidade ainda não compreendeu o seu real significado. 

A caridade é benevolência, é amor, é simplicidade, é misericórdia, e são todas as coisas que servem para a evolução do espírito que precisa ser testado em sua trajetória de evolução; não um teste pejorativo de querer derrubar o mais próximo, mas de sentir que tem condições de caminhar sozinho. 

A caridade é sentir e respeitar as fragilidades dos outros, na medida do possível orientando e auxiliando, para que haja a felicidade entre todos que precisam de luz e amparo nas suas vivências materiais e espirituais. 

As pessoas surgiram no planeta para viverem, e viverem muito bem, quer estejam no mundo espiritual, quer estejam no mundo material, não devendo existir a preocupação de quando estiver no mundo espiritual, e nem tão pouco quando estiver no mundo material. 

A vida deve prosseguir em qualquer estágio, é claro, observando sempre os princípios de amor, de paz, de felicidade, sem se macular por ser espírito inferior, pois as inferioridades que são imanentes, devem ser esquecidas, dando lugar a tudo de bom que existe. Entretanto, sinta que vibrando no que é bom, tudo muda em seu modus vivendi; a paz conta para o equilíbrio interior, e os trabalhos cotidianos fluem com mais acertos, mais cooperação, e fraternidade entre todos que aceitaram em seu coração um viver correto e salutar para sempre. 

As substâncias materiais não criam transformações por si só, para evolução da vida, entretanto, o seu uso é de grande importância para que as pessoas possam compreender o porque das dores e dos sofrimentos, como algumas derrocadas que as pessoas passam e não sabem porque estão naquela situação. É aí onde entra a caridade, devido o uso de tudo que a matéria utiliza sem consistência, a não ser que se tenha como ajuda a todos aqueles que necessitam de tais esclarecimentos para a compreensão de seu processo de evolução em toda a sua trajetória. 

Compreendendo as relações existentes entre as pessoas e espíritos, é que se pode praticar a caridade em seu real sentido, e não da forma como se utiliza normalmente, como uma compra de um cantinho no céu, como coisa que a moral das pessoas se comprasse com qualquer ínfima doação monetária. 

Em mensagem da irmã FRANÇA (1862) , que consta no Evangelho Segundo o Espiritismo, há uma explicação bastante interessante quando revela que, deveis amar os infelizes, os criminosos como criaturas de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como a vós mesmos, pelas faltas que cometeis contra sua lei. Pensai que sois mais repreensíveis, mais culpados que aqueles aos quais recusais o perdão e a comiseração, porque freqüentemente, eles não conhecem Deus como vós o conheceis, e lhes será pedido menos que a vós. 

Esta explanação mostra a todos, o mais completo conceito de caridade, quando conclama a todos para que se desperte para este conhecimento que se inicia com aqueles que perseguem e maltratam, mas que devem ser compreendidos pelos sábios. 

Aquilo que se sente de piedoso, de vontade de ajudar e de um sofrer, por ver alguém com dificuldade, não constitui bondade interior, nem tão pouco é caridade que se tem para com os demais ao suprir deficiências que alguém por ventura venha a ter em sua caminhada. Esses sentimentos podem ser uma resposta do passado quando se praticou nos outros quaisquer tipos de sofrimento, cujas insistentes remorsos que aparecem, naqueles que estão com tais sintomas, é uma lembrança forte do que fez no passado ou praticou com algum em seu pretérito. 

A caridade se apresenta de maneira simples, onde qualquer benevolência que se exercite, não tenha o sentido de recompensa, nem tão pouco do sentimento porque alguém está sofrendo a dor da fome e frio, porém, a necessidade de mãos amigas para o progresso secular. 

Um outro exemplo de caridade vem de LAMENNAIS (1862), citado também no Evangelho Segundo o Espiritismo, quando ele pergunta se um homem muito ruim, vai morrer, pode escapar, e voltar para praticar muito outros crimes; você o salvaria dessa morte? 

Veja que para as pessoas que não têm consistência na sua evolução espiritual é uma situação difícil de ter uma resposta, mas esse irmão diz que a morte, talvez, chegue muito cedo para ele; a reencarnação poderá ser terrível; lançai-vos, pois, homens! vós a quem a ciência espírita esclareceu; lançai-vos, arrancai-o à sua condenação, e então, talvez esse homem que morreria vos insultando, se atirará em vossos braços. Todavia, não é preciso perguntar-vos se o fareis ou não, mas ide em seu socorro, porque salvando-o, obedeceis a essa voz do coração que vos diz: 'Tu podes salvá-lo, salva-o!'  

Em verdade, a morte não elimina a idiossincrasia de um ser humano, em seus momentos de prática do mal; ela apenas adia a oportunidade de aprendizado em um corpo físico para acumular alguns conhecimentos em seu progresso. 

Aí está a caridade que sobrepõe a uma simples pena de uma fome, de um frio, ou de qualquer sofrimento que estar servindo para uma melhora de uma consciência, sem masoquismo, nem auto-flagelo que muitas pessoas praticam sem entender o seu porque verdadeiro. 

A caridade é está em frente a um desafeto, e aceitá-lo tal qual ele é, sem nenhum tipo de rancor, nem mágoa, pois, muitas pessoas dizem perdoar o seu irmão, mas não desejam nunca o ver, que ele fique para lá, e eu para cá, e aí não há caridade, nem tão pouco o perdão. 

Neste contexto, não houve caridade, porque caridade é amor, é benevolência e é, sobretudo, esquecimento do passado, como também a certeza de somente fazer o bem em todos os instantes, na busca de que todos sintam amor e felicidade numa linha de progresso. 

As pessoas caridosas não têm dentro de si, nenhum tipo de discriminação, tal como existe no mundo inteiro do branco contra o negro, ou vice versa, das mulheres bem casadas contra as prostitutas, dos homens contra os homossexuais, do pobre contra o rico, enfim, dos seres humanos que devem ser vistos dentro de uma situação qualquer. 

Enquanto isto perdurar, não haverá como se exercer a caridade, nem tão pouco o amor uns para com os outros, e a guerra vai continuar alimentando as ignorâncias individualizadas por muitos e muitos séculos. Finalmente, a caridade começa e termina na máxima que atribuem a JESUS, quando foi claro ao pronunciar: amemo-nos uns aos outros e façamos a outrem o que quereríamos que nos fosse feito.


Um comentário:

  1. É um conceito muito claro do é caridade. É um caminho com seta de direção.

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