Logun-ede era um caçador solitário e infeliz, mas orgulhoso. Era um caçador pretensioso e ganancioso, e muitos os bajulavam pela sua formosura.
Um dia Oxalá conheceu Logun Edè e o levou para viver em sua casa sob sua proteção.
Deu a ele companhia, sabedoria e compreensão. Mas Logun Edè queria muito mais, queria mais. E roubou alguns segredos de Oxalá. Segredos que Oxalá deixara à mostra, confiando na honestidade de Logun.
O caçador guardou seu furto num embornal a tiracolo, seu adô. Deu as costas a Oxalá e fugiu.
Não tardou para Oxalá dar-se conta da traição do caçador que levara seus segredos. Oxalá fez todos os sacrifícios que cabia oferecer e muito calmamente sentenciou que toda a vez que Logun Edè usasse um dos seus segredos todos haveriam de dizer sobre o prodígio: "Que maravilha o milagre de Oxalá!".
Toda a vez que usasse seus segredos alguma arte não roubada ia faltar. Oxalá imaginou o caçador sendo castigado e compreendeu que era pequena a pena imposta.
O caçador era presumido e ganancioso, acostumado a angariar bajulação. Oxalá determinou que Logun Edè fosse homem num período e no outro depois fosse mulher.
Nunca haveria assim de ser completo. Parte do tempo habitaria a floresta vivendo de caça, e noutro tempo, no rio, comendo peixe. Nunca haveria de ser completo. Começar sempre de novo era sua sina.
Mas a sentença era ainda nada para o tamanho do orgulho do Odè. Para que o castigo durasse a eternidade, Oxalá fez de Logun Edè um orixá.
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